sexta-feira, 20 de junho de 2008

Natureza

Alguém se lembra do pânico que se gerou em Portugal quando um ministro admitiu que a água podia vir a ser racionada no Algarve caso não chovesse com abundância no Inverno de 2004/2005? Afinal choveu e o governo do ministro até foi levado na enxurrada.

Mas será que ficou resolvido o problema da água no Algarve? Volto ao assunto, um dia depois, porque uma notícia do “Público” lhe confere a maior actualidade. Embora, para actualidade da questão bastasse, por exemplo, o tema da Expo de Saragoça, a água, num país, a Espanha, que está a ser tragado pela desertificação.

A notícia do “Público” revelava que 22 dos 23 campos de golfe do Algarve são regados com água potável e apenas um com águas residuais tratadas. Só neste país – e talvez, vá lá, em mais uma ou outra república de bananas – se esbanja desta maneira um bem tão precioso em benefício dos interesses de uma minoria. Aliás, só neste país é que existe, num espaço tão reduzido como o Algarve, uma concentração tão desmesurada de campos de golfe, um tipo de investimento turístico predador do bem inestimável que é a água. E no futuro será pior. Aos 23 campos já existentes vão somar-se mais outros 20 já projectados e aos quais nenhum estudo de impacte ambiental levantará problemas. E assim o Algarve se vai transformando num aglomerado de condomínios de betão, que significam o progresso, e campos de golfe, que representam a natureza.

Os governos passam e os problemas ficam e agravam-se. Há um plano de “medidas prioritárias” para o uso da água em estudo há sete anos. Os governos podem silenciar os buzinões, com medidas repressivas ou com manipulação da informação. Mas quando os recursos da natureza se revoltarem não haverá nada a fazer.

jpguerra@economicasgps.com

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1136610.html

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