quarta-feira, 11 de junho de 2008

Gasolina

Há dias escreveu-se aqui que o capitalismo era o maior libertador da história. A frase perturbou algumas almas sensíveis.
André Macedo

Compreende-se o escândalo. As palavras não são apenas o que elas dizem literalmente, são também as circunstâncias histórias que carregam e que, demasiadas vezes, contaminam a sua compreensão. Capitalismo e revolução, em pólos aparentemente opostos, são dois bons exemplos deste mal-entendido: há quem sinta o estômago às voltas só de as ouvir.
Não é caso para tanto. Quando se diz que o capitalismo liberta, não significa que se pretenda apagar os erros e os abusos do filho primogénito do capitalismo: o mercado. Seria ridículo e revelaria uma enorme ignorância. A exploração dos mais fracos nos países em vias de desenvolvimento confirma a imperfeição do mercado e das suas diversas manifestações, exportações e consequências. Não é sequer preciso ir tão longe para apontar os erros: os simples abusos das empresas nas economias desenvolvidas também reflectem as insuficiências do capitalismo. Mas daí não resulta a sua condenação à cadeira eléctrica. Significa apenas a necessidade de introduzir mecanismos de correcção dos seus falhanços. Ou seja, tribunais e reguladores que defendam, com equilíbrio, os interesses das pessoas.
Dito isto, repete-se o essencial: os mercados abertos e a concorrência – características que definem as democracias liberais – são poderosas sondas que atacam as bolsas de ineficiência, disciplinam as empresas e os governos, promovem a qualidade e o progresso. As manifestações do sucesso das economias abertas estão, por isso, todos os dias nas páginas dos jornais em grandes títulos ou em registos mais prosaicos. É o caso da guerra entre a Zon e a PT. Agora que as empresas se separaram, passou a haver mais concorrência entre os fornecedores de televisão. Quem ganha? O consumidor, claro, que hoje já recebe mais e melhor pelo mesmo preço.
No caso da gasolina o caso é mais intricado. Como resolver a escalada dos preços? Baixar o ISP seria uma solução desejável, mas é irrealista nos actuais dias de incerteza: o Governo não dividirá uma parte dos 2,8 mil milhões de receitas que conta receber este ano. Também seria uma monstruosidade intervir e condicionar o preço. A prazo, a consequência seria brutal e iríamos todos – com ou sem carro – pagar a factura. Sobra uma saída e uma esperança: confiar no regulador (AdC), que terá de manter-se alerta para ver se as gasolineiras estão a formar um cartel; e esperar que haja cada vez mais concorrência. A culpa não é da Galp. O problema é que só há uma Galp em Portugal. Com duas, só poderíamos estar melhor. Para os problemas de mercado há outro remédio: mais mercado.

Comentários

vg
Pura ingenuidade.Acha que a Zon e a "mãe" PT estão em concorrencia? O "triplay" da PT não era já conhecido dos chefes da Zon?A caixa "digital" da Zon não é uma tecnologia mais que conhecida ,que só peca por vir atrasada e cara?O que conseguiram foi este "faz de conta"de competição que, só é possível por falta de concorrencia a sério( gestão da Soanaecom é incomprensível).Se forem aos arquivos, verão que a Galp é ,há 50 anos ,líder do mercado e os outros vão ganhando o seu,comprando nas refinarias locais ,mantendo o "satus quo".Capitalismo de concorrencia?Querem maior escandalo do que o que se passou com o sector bancário?Este capitalismo não dispensa carteis e monopólios.Aliás previstos ,há mais de um século..

NapoLeão
Claro que a esta hora o camarada Karl Marx deve andar "aos pulos na sua sepultura londrina". Andassem os nossos ilustríssimos governates de metro, autocarro, comboio ou num Honda Jazz, Toyota Yaris, Renault Twingo e pagando dos seus bolsos e, perceberiam com a vida não está fácil. Mas como as deslocações são em Audis, BMW ou Mercedes pagos pelo orçamento, claro que não são sensíveis ao custo de vida. Já "ganharam o Céu" !!!

JOAMOR (joãodeamorim.amorim@gmail.com)
Deixemos o mercado funcionar e convençamo-nos de que os dias de ilusória prosperância já lá vão.Vamos passar a viver ao nivel das nossas possibilidades e lembremo-nos que ocupamos dos últimos lugares na Europa a 27 em termos de produtividade. Eu ando a pé, e nego-me a subsidiar gasolina para o pó pó daqueles que não se querem dar a essa chatisse.

Jose
Está enganado. Os 2,8 mil milhões de euros que o Estado recebe é que serão a morte da economia. O cadáver vai ficar sem sangue. Provar que há cartel? Sabe que está a lidar com as entidades mais poderosas do planeta? A BP, a Repsol, a Exxon, a Chevron, a Total ou a Shell mandam mais do que o Estado Americano....

Via: Diário Económico

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