segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Identificada causa da osteoporose

25 Agosto 2008 - 00h30

Estudo de investigadores da Coreia do Sul
Identificada causa da osteoporose

Cientistas sul-coreanos descobriram o mecanismo por detrás da osteoporose, uma doença que afecta em particular as mulheres depois dos 50 anos. A descoberta tem como base experiências em ratos de laboratório mas pode dar origem a novas linhas de investigação para remédios inovadores.

De acordo com a equipa de cientistas da Universidade Nacional de Seul, liderada por Kim Hong-hee, as conclusões da investigação confirmam que existe uma proteína, a CK-B, que é responsável por activar o processo de deteorização dos ossos. Ao bloquear a proteína nos ratos, impediram a descalcificação dos ossos. As conclusões serão publicadas na revista da especialidade ‘Nature Medicine’.

Actualmente os tratamentos para esta doença têm como base a ingestão de cálcio e vitamina D, mas podem causar outro tipo de complicações. Com a identificação do papel da proteína CK-B, podem surgir novas formas de abordar a doença, evitando os efeitos secundários.

A osteoporose é hoje um problema de saúde pública. Em Portugal, estima-se que atinja 500 mil pessoas e afecte uma em cada três mulheres após os 50 anos. Traduz-se numa diminuição da massa óssea que faz com que haja uma maior fragilidade do osso. O resultado é um maior risco de se partir. Prevê-se que, nos próximos 50 anos, o número de pacientes duplique pelo aumento da longevidade.

Via: http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=930F0CEE-5AE1-4E7A-9543-6BFCDEA798AC&channelid=F48BA50A-0ED3-4315-AEFA-86EE9B1BEDFF

Morte de bebés levanta véu sobre testes clínicos

NICOLAS REVISE
Jornalista da France-Presse

Índia.
A Fundação Uday suspeita que o maior hospital do país convenceu famílias dos bebés, pobres e analfabetas, a deixar submetê-los a testes gratuitos para laboratórios do Ocidente
A morte de 49 bebés cobaias no maior hospital indiano levantou a ponta do véu sobre o boom da deslocalização dos ensaios clínicos de medicamentos da indústria farmacêutica mundial. A morte destes bebés, em dois anos e meio, foi agora revelada pelo diário Times of India.

O administrador do Instituto das Ciências Médicas de Nova Deli, Shakti Kumar Gupta, disse à France- -Presse que "foi ordenado um inquérito interno" sobre os testes de produtos dos laboratórios suíços Roche e Novartis e do japonês Sankyo Pharma. Em Junho, a Fundação Uday para os defeitos congénitos e os grupos sanguíneos raros agarrou o caso graças a uma lei que dá ao cidadão indiano o direito de interrogar um organismo de Estado. O presidente daquela instituição, Rahul Verma, questionou o hospital público.

Desde 2006 que 4142 bebés (2728 menores de um ano ) foram submetidos a testes. Este reconheceu que "as 49 mortes foram registadas entre os bebés referenciados". Segundo Gupta, estes ensaios foram validados pelo comité de ética e são conformes às directivas. Sem especificar os problemas dos bebés, disse que "os falecidos estavam muito doentes".

A Fundação Uday pediu ao hospital a lista dos medicamentos administrados. O hospital revelou o Rituximab comercializado na Europa pela Roche, para pacientes com "linfoma não Hodgkin agressivo"; a substância Olmésartan para a tensão arterial, da Sankyo Pharma; e o Valsartan, da Novartis, dos EUA, para a hipertensão. "Não houve nenhum teste pediátrico com produtos da Roche na Índia", disse Claudia Schmitt, porta-voz do grupo em Basileia. Sem excluir que "se possa utilizar este Rituximab" no decurso de testes, a porta-voz da Roche francesa, Déborah Szafir, assegurou que "a Roche não o autorizou, nem deu, nem apoiou".

A deslocalização de testes clínicos é um caso a seguir. Calcula-se que este outsourcing valha 120 milhões de dólares em 2007, e cresça 25% ao ano. Até 2010, chegará aos dois mil milhões. Os testes são mais baratos entre 40 a 60% do que no Ocidente. Mas não explicam sozinhos o apetite dos laboratórios pela Índia. "É o mercado indiano que faz sentido", justifica Schmitt.

A Índia tonou-se terreno de testes sem limite pela diversidade da população e pelos batalhões de "doentes com patologias do coração e fígado, mais fáceis de encontrar do que no Ocidente para serem cobaias." |

Via:http://dn.sapo.pt/2008/08/25/ciencia/morte_bebes_levanta_sobre_testes_cli.html

domingo, 24 de agosto de 2008

Chegará a vez deles

Baptista Bastos
b.bastos@netcabo.pt

--------------------------------------------------------------------------------
No conflito que opõe a Geórgia à Rússia as explicações não parecem ser tão lineares quanto a comunicação social portuguesa nos propõe. Apesar de todo o cuidado posto nas frases, Carlos Santos Pereira foi, até agora, o único comentador que esclareceu a natureza da pendência.

Vou tentar resumir: desde 1990 que as Nações Unidas tutelam a Ossetia do Sul, e, desde 2003, os Estados Unidos têm um peão no presidente da Geórgia, Mikheil Saakachvili, o que permite a constituição de uma espécie de tenaz proliferante, com pontos "amigáveis" na Ucrânia, e a ameaça de instalação, pelos americanos, do sistema antimísseis, na República Checa e na Polónia.

Como retaliação, os russos anunciam apontar os seus mísseis à Ucrânia e à Polónia. Junte-se-lhe a questão dos combustíveis e adivinhar-se-á a crispação internacional, colocada ante uma outra face de uma outra Guerra Fria.

No "Diário de Notícias", Santos Pereira esclarece, citando George Friedman, director do Observatório de Análise Geopolítica: "Pela primeira vez desde o colapso da União Soviética, os russos lançaram uma acção militar decidida, e impuseram uma situação militar.

Fizeram-no de forma unilateral, e os países que olhavam para o Ocidente, para intimidar a Rússia, vêem-se agora obrigados a ter em conta o que aconteceu."

Tudo leva a crer que a exibição de força russa conduzirá a um recuo dos Estados Unidos.

Este é o eixo do problema. Sabe-se que, tanto na Ucrânia como na Geórgia, a intervenção dos americanos não se limitou ao envio de centenas de "assessores" militares: o investimento, naqueles países, de milhões e milhões de dólares não são demonstrações de compaixão nem expressões de solidariedade.

Seja quem for o próximo presidente, o legado deixado por Bush revela-se um bico-de-obra de difícil solução. E adiante-se que nenhum dos dois intervenientes está disposto à humilhação de uma derrota desacreditante. Por outro lado, a política externa francesa já exprimiu a gravidade do caso, ao mesmo tempo que inflecte para o lado da razão russa. Fê-lo com o melindre que o assunto envolve. Mas fê-lo.

Há uma extraordinária superficialidade no tratamento destas crises, por parte dos jornais, das rádios e das televisões portuguesas. A grande rábula da designada "visão ocidental dos acontecimentos" encobre ignorância, leviandade e cumplicidade.

A autêntica "visão" será a da procura da "verdade", o que quer que esta palavra hoje signifique. De facto, em todos os conflitos não existe uma razão unilateral. As responsabilidades cabem a muitas partes, inclusive aquelas que não aparecem à luz do dia. E não há "distanciação" possível quando a beligerância, nascida sempre de manobras políticas, atinge níveis como os registados nesta guerra.

Raras vezes a Imprensa (não só a portuguesa, mas sobretudo a portuguesa) foi ao fundo das questões. E o anticomunismo ainda se não desvaneceu do espírito da esmagadora maioria dos "comentadores", como se não houvesse outros e novos e surpreendentes temas e teses a merecer a sua atenção. O preconceito obnubila qualquer sentido crítico, por mais ténue que ele seja. Eles falam e escrevem como se o comunismo não tivesse acabado. Ou não acabou? Ou como se a Rússia estivesse a desenvolver potencialmente uma espécie de niilismo, resultante da nostalgia comunista. Tudo isto é ridículo.

A perspectiva na qual se colocam os "colunistas" permite que os consideremos ou ineptos, ou preguiçosos, ou ignorantes. Ou isso tudo, com canalhice à mistura.

Estamos a assistir a acontecimentos de conclusões imprevisíveis. A liberdade tem sido espezinhada em nome de uma paz falaciosa. Pouco sabemos, com rigor, das grandes transformações por que passa parte substancial da América Latina, e das dificuldades tremendas com que se deparam os governos não submissos ao "diktat" dos EUA.

A nossa comunicação social, neste como em numerosos e vários casos, emudece, ou faz pender a balança da informação e da análise para um só lado. Não é só um erro profissional: é uma estrebaria moral, um ultraje deontológico e uma perfídia abjecta.

O descrédito que tombou sobre a nossa Imprensa, a quebra avassaladora das tiragens, deve-se, grandemente, à perda dessa unidade fundamental entre o jornal e o leitor.

Muitos portugueses lêem e falam francês, inglês e alemão.

É absurdo ignorar esta vertente do conhecimento. Encontram na Imprensa estrangeira o que nem por sombras é publicado na de cá. Haverá "felicidades diferentes", como reconhecia Camus.

Porém, verdades impostas pela multiplicação de manipulações, de omissões e de enganos, são difíceis de manter por tempo excessivo. Entre a separação e a comunhão, o leitor avisado tem escolhido a primeira.

A semelhança entre os jornais, a ausência de causas, a uniformidade do estilo, a "distanciação", a morte da paixão em favor da gelidez da prosa, o mesmo registo filosófico e análogas "linhas" editoriais afugentaram milhares e milhares de leitores. Ancilosados na superstição de que aquilo que escrevem faz opinião, muitos directores de jornais (e lembro-me, neste momento, de alguns, por igual desprezíveis) não entendem que, mais cedo ou mais tarde, os seus "serviços" serão dispensados.

Chegará a vez deles. Para parafrasear um famoso editorial do "Jornal Novo".

SNS - Exclusividade Ou Apenas Dedicação

Manuel J. Antunes
professor catedrático
director de serviço dos Hospitais da Universidade de Coimbra


De repente, pareceu-me ver uma luz ao fundo do túnel… O Ministério da Saúde anunciava a intenção de implementar a dedicação exclusiva dos médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Há mais de 20 anos que venho a pugnar por essa medida. Estou convicto de que nela reside um importante factor de melhoria de produtividade, de que o nosso SNS muito necessita. Assim o concluiu a maior parte dos serviços de saúde públicos dos principais países europeus, como também o parecem ter decidido os operadores das instituições privadas recentemente criadas no nosso país.

Efectivamente, o regime típico de part-time da maior parte dos médicos do SNS não favorece a sua rentabilidade. Um horário de 35 horas, incluindo 12 para serviço de urgência, deixa aos médicos pouco mais de quatro horas diárias para as tarefas de rotina. Salas de operação a funcionar apenas quatro ou cinco horas por dia são duplamente onerosas. E o mesmo se pode dizer, embora em escala diferente, das consultas externas, que, geralmente, funcionam apenas cinco manhãs por semana.

Por outro lado, a ênfase agora posta nos níveis intermédios de gestão, com uma maior autonomia e responsabilização dos serviços, faz com que seja impossível conduzi-los com eficiência sem que todo o pessoal médico, e o próprio director, trabalhe, em dedicação plena, as 42 horas semanais.

Finalmente, a divisão da actividade dos médicos pelos sectores público e privado é susceptível de originar conflitos de interesse, sendo certo que quanto maior e melhor for a produção no público tanto, menor será o número de doentes que ocorrerá ao privado, de onde as suas expectativas de ganho serão diminuídas. Acresce que o duplo emprego é gerador de irracionalidades na distribuição do tempo de trabalho e de subutilização das estruturas do sistema. Por isso, os directores de serviço deveriam ser os primeiros a conquistar para um tal regime. Há evidência de que esta opinião é partilhada por um número cada vez maior de médicos, especialmente entre os mais novos, embora seja rejeitada pela Ordem dos Médicos, com o argumento principal de que os médicos devem ser livres de fazer o que entenderem do seu próprio tempo. Argumento que até eu sou capaz de aceitar e, por isso, prefiro deixar cair a estafada designação de exclusividade e adoptar a de dedicação plena (ou total, como referida na legislação dos centros de responsabilidade). Isto é, colocando maior ênfase no tempo dedicado ao hospital e relegando para lugar secundário saber o que se faz quando se está fora dele, sem deixar de separar as águas, sendo evidente que há que evitar a autocompetição. Logicamente, um tal estatuto não pode ser imposto a curto prazo aos que actualmente se encontram em funções. Pelo contrário, teria de ser um projecto de médio a longo prazo (pelo menos seis a dez anos), o que não impede que pudesse ser aplicado no imediato aos que a partir de agora entrem no SNS, bem como aos que por qualquer razão, incluindo por promoção, venham no futuro a modificar o seu estatuto actual. Acena-se com o fantasma da debandada geral para o sector privado, esvaziando o público dos seus melhores elementos. Mas, como é óbvio, tal só aconteceria se o privado tivesse a capacidade de os absorver a todos, o que, claramente, não tem. Mas é evidente que, se se quiser fixar os médicos ao hospital, o novo estatuto teria de ser apoiado por melhorias significativas das condições de trabalho, remuneratórias e outras. Disse a ministra que o SNS não está (ainda) preparado para tal. Se é ao problema económico que se refere, estou em crer que a resultante contracção significativa dos quadros acabaria por minimizar eventuais alterações dos custos, adicionalmente contrabalançada pela melhoria da produtividade e redução do desperdício. Mas afinal, segundo as declarações da própria ministra, não se trata de uma decisão firme, apenas de um balão de ensaio lançado para a discussão com os parceiros sociais, que, obviamente, não parecem inclinados a aceitá-lo. Um balde de água fria! O estatuto de exclusividade, instituído em 1988, foi desde sempre utilizado de forma perversa, sem se ter tido o cuidado de controlar o respectivo impacto na produtividade. O exemplo típico é o do médico em fim de carreira, que passa ao regime de exclusividade a um par de anos da aposentação, com o fim único de aproveitar as vantagens financeiras na respectiva pensão. É a completa deturpação da sua finalidade. Se se quiser melhorar o sistema, tem de se ter a coragem de o modificar radicalmente. A dedicação plena virá. Inevitavelmente. Espero que não muito tarde… |

Via: http://dn.sapo.pt/2008/08/24/opiniao/exclusividade_apenas_dedicacao.html

Contribuidores