sábado, 31 de maio de 2008

Ritual

Tornou-se uma espécie de ritual: todos os anos, por esta altura da Primavera, a Amnistia Internacional publica o seu relatório anual sobre o estado dos Direitos Humanos no mundo para concluir que o desrespeito é generalizado.

De acordo com o relatório deste ano, 81 países usam a tortura, 54 promovem julgamentos injustos, em 77 não há liberdade de expressão; a China tem a “reeducação” dos dissidentes, a Rússia também cultiva a intolerância com a dissidência, os EUA têm o seu Dachau em Guantánamo e mais um número indeterminado de campos de concentração secretos, com a colaboração de estados da União Europeia, Portugal tem a violência policial, acrescida agora da violência doméstica e da cumplicidade com os chamados “voos da CIA”.

Mas apesar deste panorama tenebroso, os Direitos Humanos deixaram der ser um cavalo de batalha do chamado mundo ocidental e civilizado. A questão dos Direitos Humanos, consagrada numa Declaração Universal há 60 anos, foi meramente instrumental, usada apenas como mais uma arma do arsenal da guerra-fria. O chamado Ocidente puxava o gatilho dos Direitos Humanos para encurralar os países comunistas mas não mais voltou a apontar essa arma contra as turvas ditaduras “amigas” ou “de conveniência”.

E para além disso acontece que a Declaração Universal dos Direitos Humanos não é apenas desrespeitada no plano dos direitos políticos mas, acima de tudo e ainda mais generalizadamente, no campo dos direitos económicos e sociais. E ninguém parece dar conta da violação diária e cada dia mais sofisticada dos Direitos Humanos ao trabalho com “remuneração equitativa e satisfatória”, à saúde e ao bem-estar, à educação gratuita, etc. Nem mesmo a Amnistia Internacional.

jpguerra@economicasgps.com
Via: http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1129235.html

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Energia Geotérmica

Grande parte da electricidade consumida pode vir da terra.

Dentro de duas décadas, Portugal poderá produzir energia geotérmica suficiente para fornecer electricidade a grande parte do país, através de uma forma inovadora de aproveitar o calor da terra.

O projecto, hoje apresentado, é pioneiro em Portugal e baseia-se em sistemas geotérmicos estimulados, que permitem produzir energia eléctrica de forma renovável, limpa para o ambiente e praticamente inesgotável.
"Estamos a falar de 500 MW em dez anos, algo mais rápido e mais barato do que uma central nuclear", afirmou João Gabriel Silva, aos jornalistas.

O antigo dirigente da Quercus e actual presidente dos conselhos científico e directivo da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra (FCTUC) sublinha que "Portugal tem um potencial de produção de energia geotérmica enorme, capaz de garantir todas as necessidades energéticas do país".

O projecto envolve a FCTUC e a empresa Geovita, do grupo Patris Capital, que prevê investir meio milhão de euros só nos primeiros três anos - a fase de prospecção e pesquisa de uma área delimitada, situada na região Centro.

"Acreditamos que num horizonte de três a cinco anos, estejamos já a produzir energia eléctrica através do calor da terra", referiu Gonçalo Pereira Coutinho, presidente do conselho de administração da Patris Capital.
Se tudo correr como previsto, disse à Lusa João Gabriel Silva, "dentro de 20 anos, a maior parte da energia eléctrica do país será produzida através da energia geotérmica".

As unidades de produção geotérmica estimulada podem ser instaladas, "sem impacto ambiental, em praticamente todo o lado, e com baixos custos de investimento", acrescentou.
A diferença entre a produção tradicional de energia geotérmica e a estimulada reside no facto de, nesta, a água ser injectada a partir da superfície.
Ao ser injectada para um furo, que pode atingir cinco a seis quilómetros de profundidade, a água abre fracturas na rocha e espalha-se por zonas a 200 ou mais graus de temperatura. Evapora-se e sobe então à superfície, através de um segundo furo, alimentando assim o funcionamento de um gerador.

O projecto já mereceu parecer técnico favorável da Direcção Geral de Energia e Geologia, aguardando apenas autorização para o exclusivo de prospecção e pesquisa de uma área de 500 Km2, situada entre Oliveira do Hospital (Coimbra) e Nelas.

Diário Digital / Lusa
27-05-2008 19:24:32

Modelo de Tratar Doenças "Falhou"

Ronald Klatz

A medicina centrada no tratamento de doenças «falhou» e por isso o caminho a adoptar terá que ser a prevenção, defendeu hoje o «pai» do termo medicina anti-envelhecimento, o norte-americano Ronald Klatz.

Presente no primeiro Congresso Ibérico Anual sobre medicina anti-envelhecimento, a decorrer até sábado no Estoril, o especialista contou à Lusa a dificuldade que teve em fundar a Academia Americana de Medicina Anti-Envelhecimento por os próprios médicos acharem que os efeitos do tempo eram irreversíveis.

«Os críticos diziam ser uma heresia tratar a idade como uma doença», lembrou Klatz, acrescentando que muitos dos especialistas que colaboraram inicialmente chegaram a perder fundos para investigação.

No entanto, 90 por cento das horas da prática médica é gasta em doenças provocadas pela idade (diabetes, patologias cardiovasculares ou neurológicas), contra os 10 por cento investidas em problemas infecciosos e genéticos que afectam maioritariamente jovens, argumentou.

A própria medicina anti-envelhecimento acaba por ser exercida por todos os médicos: «trata-se de prevenir, detectar e tratar precocemente».
«A Medicina anti-envelhecimento é um eufemismo para os avanços nas medicina, como os exames tecnológicos, e não é uma molécula que se quer manter ultra-secreta», assegurou à Lusa.

«Não vamos esperar que uma pessoa sofra um ataque cardíaco quando os primeiros sinais podem surgir 30 anos antes, nem que um cancro se desenvolva porque se for detectado precocemente é curável em 95 por cento das situações», exemplificou.

Sobre a ideia que o anti-envelhecimento se reduz às questões estéticas, o médico responde que apenas 20 por cento da equação desta medicina diz respeito a essas preocupações.
«O que se quer é que as pessoas também estejam bem e bonitas por dentro, mas também ninguém quer parecer um fóssil», afirmou.

Klatz sublinhou que «não está nas mãos das pessoas a imortalidade» até porque a «marcha do relógio não se pode parar», mas pode-se garantir maior qualidade de vida através de medicamentos inovadores e do «estilo de vida anti-envelhecimento.

Estudos referem já que a geração «baby-boom» (nascidos na década de 1960) poderá viver até aos 100 anos «com grande qualidade de vida» se aproveitar a «revolução» clínica, ser «auto-herói e não esperar pelos médicos», seguir uma boa alimentação com anti-oxidantes, fazer exercício, dormir bem e mentir sobre a idade.
«Quando se diz que se está velho, é porque se está a desistir e fica-se pronto para ir para o túmulo», resumiu.

A «revolução» na medicina passa também pelo uso das células estaminais, «que não só tratam, como curam».
«Não há qualquer argumento válido, apenas político, para que não se utilizem. Não se trata de matar bebés, porque podem ser usadas células da placenta e os embriões usados em tratamentos de fertilização, que de outra maneira seriam deitados fora», disse.

Via: Diário Digital / Lusa

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Bons Exemplos


Eva Gaspar
egaspar@mediafin.pt

O presidente do Banco Central Europeu (BCE) apelou hoje aos executivos das empresas europeias para que evitem "dar maus exemplos", decidindo para si aumentos salariais superiores aos acordados para os demais trabalhadores das respectivas empresas.


"É legítimo questionar os aumentos de determinados salários que são, já de si, muito expressivos". A moderação salarial "é válida para todos, sem excepção", sublinhou em entrevista hoje publicada pela revista francesa "L’Express".


O apelo de Jean-Claude Trichet, enquadrado na batalha que o BCE está a travar contra a inflação, surge na sequência dos protestos dos ministros das Finanças da Zona Euro e de alguns banqueiros centrais, caso do holandês e do britânico, que acusam os executivos de estarem a reservar para si aumentos salariais e prémios desproporcionados, quando a generalidade das empresas cotadas perdeu valor de mercado e está a por travões à massa salarial.


Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo chegou mesmo a classificar de "escandalosos" os aumentos salariais atribuídos a diversos administradores de empresas, tendo prometido estudar formas de os evitar, designadamente por via de um aumento da carga fiscal sobre os prémios.
O BCE tem feito saber que a evolução salarial na "casa" tem sido consistente com os apelos de moderação da autoridade monetária. O salário-base do seu presidente aumentou 2% no ano passado, menos do que a taxa média de inflação, passando de 338.472 euros anuais para 345.252 euros.
Ainda assim, Trichet ganha consideravelmente mais do que o seu homólogo dos Estados Unidos – país onde é especialmente expressivo o "fosso" entre os salários dos executivos e dos demais trabalhadores.

Ben Bernanke, presidente da Fed, aufere 191.300 dólares/ano (cerca de 130 mil euros), segundo a ForexNews.


terça-feira, 20 de maio de 2008

Quão Severa Será a Crise Económica?

por Monthly Review

A crise das hipotecas subprime iniciada no último Verão emergiu nos Estados Unidos levou a uma convulsão maciça do sistema financeiro mundial com consequências espantosas desde então.
Isto agora transportou-se para a "economia real" dos empregos e do rendimento. Como dizia o Wall Street Journal de 4 de Abril, "O National Bureau of Economic Research provavelmente não dirá isto durante meses. Mas por que esperar? A economia estado-unidense caiu em recessão em Janeiro último" ("Mercado de trabalho sugere que começou a recessão"). O crescimento económico global como um todo, espera-se que decline agudamente este ano.
A pergunta natural nesta altura é: Quão severa será a crise económica?
A resposta sumária é que ninguém sabe realmente. Alguns, acreditando que podemos estar direccionados para um colapso económico maciço, sublinham os perigos sem precedentes associados com um sistema financeiro que desenvolveu novos e complexos veículos de investimento para além da compreensão de qualquer pessoa. As relações tradicionais de concessão de empréstimo dominadas pelos bancos foram agora tomadas por aquilo que Bill Gross, responsável chefe de investimento da Pimco, uma importante firma de gestão de títulos, chama o "sistema bancário sombra (ou seja, hedge funds, veículos de investimento estruturado, toda espécie de canais financeiros)" ("O grande quadro não é bonito", Kipsinger Personal Finance, Abril de 2008).
Este novo mundo de investimentos especulativos exóticos é retratado como cheio de "nitroglicerina", recheado de "armas de destruição em massa" e carregado de "vírus" letais — para mencionar apenas umas poucas das alarmantes metáforas agora utilizadas habitualmente pela imprensa financeira ("O que criou este monstro?", New York Times, 23/Março/2009). Com dezenas de milhões de milhões (trillions) de dólares nominais só em credit default swaps (CDSs) a circularem — sem mencionar outros créditos derivativos e instrumentos financeiros — este sistema de finanças sombras tornou-se maciço, opaco e imprevisível. As instituições financeiras estão a ter dificuldade crescente em avaliar os seus activos ou em compreender a reacção em cadeia dos incumprimentos que elas podem estar a enfrentar.
Seria uma atenuação dizer que sob tais circunstâncias os possuidores do capital estão preocupados. Com uma recessão em desenvolvimento e com a estabilidade do dólar cada vez mais comprometida, uma dissolução financeira e um colapso económico mundial de proporções que marcam uma época são pelo menos imagináveis.
Outros, contudo, vêm a situação mais próxima de algo como uma baixa no ciclo norma de negócios — uma que o Estado interveio para afastar o colapso financeiro. Eles apontam as extraordinárias intervenções do Federal Reserve Board, a mais dramática na administração do salvamento do Bear Stearns e sua absorção pelo JPMorgan Chase em Março. O Fed, em conjunto com os bancos centrais em outros países capitalistas avançados, tem estado a expandir rapidamente seu papel como financiador de último recurso, emprestando centenas de milhares de milhões de dólares em títulos governamentais enquanto toma como colateral títulos baseados em hipotecas para os quais não existe mercado. Todos sabem que o governo acabará por assumir as perdas de milhares de milhões de dólares deste colateral — mais claramente na dívida colaterizada emitida no caso do Bear Stearns como "não recurso" (ou seja, o tomador do empréstimo não precisa repagar o "empréstimo" para além do colateral).
A mensagem para os mercados financeiros é clara: as vastas perdas iminentes, que de outra forma cairiam sobre as principais instituições financeiras, serão socializadas. Se uma tal mensagem não desse "confiança" aos actores-chave do mercado financeiro a situação na verdade seria verdadeiramente grave. Como dissemos, uma aparência de confiança foi pela primeira vez restaurada.
Destacando a rápida recuperação da crise financeira anterior (provocada pela explosão da bolha do mercado de acções da Nova Economia em 2000), os analistas mais optimistas argumentam que o sistema financeiro já está a estabilizar que este período de baixa provavelmente será curto. No entanto, mesmo os principais porta-vozes desta posição, tais como o presidente do Federal Reserve, Bern Bernanke, admitem que há consideráveis "riscos... de declínio" no actual clima de incerteza económica os quais poderiam resultar em "danos" severos para a economia e "a deterioração de posição" por todo o sistema financeiro (Bernanke, "Testemunho perante o Joint Economic Commitee, U.S. Congress", 02/Abril/2008).
Mas se a direcção que tomará a actual crise económica ainda é desconhecida, a coisas são muito mais claras quando nos voltamos para o longo prazo, a enfermidade estrutural do sistema, da qual a actual retracção é sintomática sob muitos aspectos. De acordo com um argumento que temos apresentado há décadas nestas páginas (mais recentemente em "A financiarização do capital e a crise" no número de Abril de 2008 da MR), a financiarização do processo de acumulação de capital que tem estado a verificar-se desde a década de 1970 está enraizada na tendência subjacente para a estagnação das economias capitalistas avançadas.
No essencial, o sistema é tão produtivo e os resultados desta enorme e crescente produtividade são tão desigualmente distribuídos (os salários reais da maior parte dos trabalhadores nos Estados Unidos estagnaram durante trinta anos ao passo que os lucros ascenderam) que há uma contínua acumulação de excedente à procura de investimento nos cofres das corporações e nas mãos de indivíduos ricos. Na falta de suficientes saída para este vasto excedente na "economia real", o capital tem estado a ser despejado na superestrutura financeira, onde foram desenvolvidos novos instrumentos financeiros derivativos para absorver este excesso de capital dinheiro.
Isto serviu para alçar a economia desde os anos 1970. Contudo, a consequência foi a criação ao longo das últimas poucas década (e ainda mais rapidamente nos últimos anos) de uma vasta economia financeira sombra acima e para além da economia real. A explosão da bolha habitacional, a crise das hipotecas subprime e a crise financeira geral que se seguiu pode ser encarada como sinais de uma crise neste processo de financiarização.
O melhor que os mestres do sistema estado-unidense podem esperar para os próximos anos é uma fase de estagnação económica mais profunda e mais prolongada, isto é, crescimento lento, emprego fraco e excesso de capacidade produtiva crescente. Como os Estados Unidos se movem — e isto acontecerá — para empurrar o fardo da sua crise financeira para o resto do mundo, as tensões resultantes são obrigadas a serem globais e inevitáveis dentro da lógica da globalização capitalista realmente existente.
Àqueles que procuram desesperadamente uma solução para este problema dentro do sistema temos a dizer, francamente, que não podemos pensar em nenhuma. O máximo que se pode fazer é alterar radicalmente a natureza do próprio sistema: uma drástica redistribuição do rendimento e da riqueza em favor daqueles menos ricos e um programa maciço de investimento social em favor daqueles que mais precisam dele. Mas o capitalismo só é capaz de seguir esta estrada numa extensão limitada e só sob coacção extrema — e uma vez anulada a pressão ele reverte para os seus velhos caminhos. Mais cedo ou mais tarde (desde que uma catástrofe nuclear ou ambiental não pare o relógio) o mundo será forçado a procurar um caminho melhor e mais humano.

06/Abril/2008

O original encontra-se em http://monthlyreview.org/nfte080501.php

Este editorial encontra-se em http://resistir.info/

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Isto Não É Um País

Foi em 2002 que tudo começou. Santana Lopes, então presidente da Câmara de Lisboa, propunha-se salvar o Parque Mayer, já então em acentuada decadência. Assim nasceu a ideia de um casino em Lisboa, para ajudar a financiar o projecto de recuperação do Parque Mayer. Para encabeçar o projecto, Santana começou por falar em Norman Foster, mas quem depois aterrou em Lisboa foi Frank Gehry, que ainda apresentou uma maqueta.

Como quem não tem dinheiro não tem vícios (ou não devia ter, a acreditar no passivo entretanto acumulado), a Câmara acabou por deixar cair o projecto de Gehry que, naturalmente, facturou pela concepção do projecto qualquer coisa como 2,5 milhões de euros.

Caiu a recuperação do Parque Mayer, pelo caminho a Câmara acordou com a Bragaparques a permuta por uma parcela dos terrenos da Feira Popular, mas, de todo esse desenrolar frenético de grandes projectos, só uma coisa pegou de estaca: um novo casino em Lisboa.
Começou por ser no Parque Mayer mas acabou a circular, no terreno das hipóteses publicadas, pelo Cais do Sodré ou pelo Jardim do Tabaco, entre uma miríade de localizações. Até aterrar no Pavilhão do Futuro da Expo 98.
A decisão de instalar um casino no centro da cidade sempre foi polémica. Mais polémica ainda foi a extensão da concessão da zona de jogo do Estoril à cidade de Lisboa, sem concurso, decisão a que os restantes operadores do sector nunca se resignaram.
De polémica em polémica, o melhor estava guardado para o fim. A entrega do casino à Estoril Sol foi acompanhada de uma alteração à Lei do Jogo. Dois pareceres da Inspecção Geral de Jogos, em sentido contrário num curto espaço de tempo, permitiram à concessionária reclamar a posse do imóvel do casino, contrariando o princípio geral da reversibilidade para o Estado no final da concessão. O ministro do Turismo à época, Telmo Correia, teve dúvidas sobre a interpretação final da Inspecção Geral de Jogos e, não querendo comprometer-se, limitou-se a “tomar conhecimento”, o que foi suficiente para a empresa defender os seus interesses.
Em escutas telefónicas no âmbito do processo Portucale, segundo o “Expresso”, há conversas entre Abel Pinheiro, dirigente do CDS responsável pelas finanças do partido, Mário Assis Ferreira, presidente da Estoril-Sol, e Paulo Portas, onde é pedido que Telmo Correio apenas “tome conhecimento”.
Soube-se, entretanto, que os pedidos da Estoril Sol chegaram directamente ao primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, e que quem pede orienta os termos em que a decisão deve ser tomada, para evitar o relacionamento de uma lei geral com o caso concreto.
De tudo o que foi descrito, há várias coisas irrefutáveis. A Estoril-Sol ganhou a extensão da concessão da zona de jogo para Lisboa, pressionou dois governos (o de Barroso e o de Santana) para garantir a propriedade plena do Pavilhão do Futuro e o Parque Mayer continua a sua morte lenta.
O caso é exemplar da forma como se tomam em Portugal decisões que deveriam ser de interesse público. Mesmo para quem não acredita em bruxas, há coincidências a mais neste encadeamento de factos à volta do Casino de Lisboa.
Quem sai mais prejudicado desta lamentável história são os dois partidos da oposição. Não é com episódios destes que o PSD ganha credibilidade para se bater com Sócrates daqui a um ano. Mas o episódio mina a credibilidade da classe política como um todo, pois poucos ousarão pôr as mãos no fogo pelo actual executivo. Afinal, os podres demoram algum tempo a vir à superfície.
Apetece desabafar, como Eça, que Portugal não é um país, é um sítio mal frequentado.
Via : http://www.negocios.pt/default.asp?Session=&SqlPage=Content_Opiniao&CpContentId=311923
lbessa@mediafin.pt

sábado, 17 de maio de 2008

A Globalização Neoliberal Não É O Problema

por Rick Wolff [*]


O capitalismo é.
As pessoas de esquerda que têm como alvo a globalização neoliberal denunciam a privatização, os mercados livres, a mobilidade sem peias do capital e as desregulamentações governamentais da indústria. Elas propõem, como alternativa, que governos nacionais ou supra-nacionais controlem e regulem transacções de mercado e especialmente movimentos de capital, aumentem impostos sobre os lucros e a riqueza, e até mesmo possuam e operem indústrias. "Tudo nos interesses do povo", dizem elas, democraticamente.

Mas a crítica de Marx ao capitalismo nunca teve como foco regulamentações governamentais e indústrias de propriedade estatal. Isto nunca foi a sua solução para os custos, injustiças e desperdícios do capitalismo. Ao invés disso, Marx apontava e enfatizava a "estrutura de classe" da produção no capitalismo. Com isto referia-se ao modo como as empresas produtivas eram organizadas internamente: minúsculos grupos de pessoas (conselhos de administração) que se apropriavam de uma porção – o "excedente" – daquilo que os trabalhadores produziam e a empresa vendia. Marx definiu tal apropriação do excedente como "exploração". E, como disse Marx, a exploração capitalista pode existir quer aqueles apropriadores sejam conselhos de administração corporativos (capitalismo privado) ou responsáveis estatais (capitalismo de Estado).

Marx opôs-se à exploradora estrutura de classe da produção no capitalismo nos planos político, ético e económico. Ele preferia uma alternativa comunista onde trabalhadores produtivos funcionassem como os seus próprios conselhos de administração, apropriando e distribuindo colectivamente os excedentes que produzissem. Igualdade e democracia, argumentou ele, exigiam a abolição da exploração como condição necessária para a sua realização.

O capitalismo como sistema sempre e por toda a parte atravessou fases, guinadas repetidas entre duas formas alternativas. O capitalismo privado é a forma neoliberal, "laissez-faire": a intervenção do governo em assuntos económicos é minimizada, e os indivíduos e negócios interagem em grande medida através de trocas voluntárias no mercado. A outra forma é a estatal-intervencionista, "social-democrata", o capitalismo do Estado Providência: o governo administra a economia através da regulamentação daquilo que os capitalistas privados podem fazer ou, alguma vezes, até assumindo o comando das suas empresas a fim fazer com que as decisões dos negócios fiquem em linha com as decisões governamentais.

A cada poucas décadas, todo país capitalista, seja qual for destas duas formas que tenha estado em vigor, entra em sérias dificuldades económicas. Trabalhadores perdem empregos, rendimentos declinam, empresas falem, e assim por diante. Levanta-se então o clamor do "alguma coisa tem de ser feita". Aqueles que sentem sofrimento mínimo e ganham bom dinheiro preferem deixar a forma existente de capitalismo corrigir-se por si própria. Aqueles mais feridos e que perdem dinheiro pedem mais mudanças drásticas. Quando este segundo grupo prevalece politicamente, a forma existente de capitalismo é finalizada e instalada a outra. Umas poucas décadas mais tarde o mesmo drama é representado ao contrário.

Quando um próspero capitalismo privado nos EUA chocou-se contra um muro de pedra em 1929, o país comutou para o capitalismo do Estado Providência (welfare-state). Quando as décadas de 1960 e 1970 produziram crise naquele capitalismo do Estado Providência, o país comutou outra vez para o capitalismo privado (neoliberalismo). Agora, depois de trinta anos de capitalismo privado globalizado provocar a proliferação de dificuldades, demasiada gente de esquerda aderiu ao coro dos que vêem como única solução uma outra guinada para capitalismo do Estado Providência. O legado de Coolidge e Hoover foi derrubado pelo coro de FDR. O legado do New Deal foi derrubado pelo coro de Ronald Reagan. O legado de Reagan-Bush pode agora ser derrubado pelo de Clinton, Obama, et alii. Tais reversões de fase entre as duas formas de capitalismo ocorrem quase por toda a parte, variando apenas com as condições e a história particular de cada país.

Como formas, o capitalismo privado e de Estado são oscilações de fase do sistema capitalista. Quando uma fase não pode resolver os seus problemas, a solução tem sido uma comutação para a outra fase. Assim, as crises de capitalismo até então evitaram provocar a solução alternativa de uma transição para fora do capitalismo. Mas aquela transição era precisamente o objectivo de Marx. Ele pretendia persuadir os trabalhadores que as oscilações entre capitalismo de Estado e privado não eram as melhores soluções para os fracassos do capitalismo, pelo menos não para os trabalhadores.

Muita gente de esquerda de hoje cataloga os terríveis resultados de 25 anos de domínio neoliberal: crises económicas e sociais agravando cada vez mais profundamente desigualdades de riqueza, rendimento e poder por todo o lado e dentro da maior parte dos países. Eles mencionam a explosão de bolhas de investimento, explosões de dívidas insustentáveis, mercados de crédito em colapso, ameaças de recessão, desmoronamento de serviços sociais, produção de mercadorias inseguras, e assim por diante. Eles propõem "soluções": que governos – nacionais ou talvez agora supranacionais – devem ser relembrados, por um levantamento democrático, do seu próprio papel. Os governos deveriam limitar, controlar, regular ou substituir empresas capitalistas privadas no interesse do povo.

Este modo de pensar repete os erros da esquerda na década de 1930. Então, quando o capitalismo privado havia implodido na Grande Depressão, a deterioração das condições voltou a maior parte dos americanos contra as preferências do Republicano Herbert Hoover e a favor do Democrata FDR. Uma nova era de intervenção económica governamental ganhou o nome de Teoria Económica Keynesiana. Contudo, o keynesianismo do New Deal sempre manteve no lugar os conselhos de administração das corporações capitalistas que dominavam a economia dos EUA. Aqueles conselhos permaneceram como os receptores do excedente produzido pelos seus trabalhadores – os "lucros" das corporações. Eles utilizaram aqueles lucros para fazer crescer as corporações, fazer ainda mais lucros, pagar salários mais altos aos responsáveis de topo, influenciar a política, e assim por diante.

O capitalismo do Estado Providência nos EUA agravou impostos, regulamentos e limites – e alternativas de emprego em massa – para aquelas corporações privadas. Mas ao deixar os seus conselhos de administração no lugar como receptores e distribuidores de lucros corporativos, o Estado Providência assinou a sua própria sentença de morte. Os conselhos de administração tinham o desejo e os meios para desfazer o Estado Providência. Custou-lhes apenas um momento mudar a opinião pública e construir um rico e poderoso movimento liderado pelos negócios a fim de alcançar seus objectivos. Na administração Reagan e desde então, potenciado por uma crise do Estado Providência nos anos 1960 e 1970, eles tiveram êxito em mudar os EUA e além disso retroceder a uma fase do capitalismo privado a que chamamos "globalização neoliberal".

Compreensivelmente, muitas pessoas não podem ver além das duas fases do capitalismo ou dos debates, lutas e transições entre elas. Mas a gente de esquerda que não vê mais além – que critica a globalização neoliberal e advoga um requentado keynesianismo do Estado Providência – abandonou o projecto crítico anti-capitalista de Marx. Elas tornaram-se apenas um outro coro para mais uma oscilação de retorno para a forma de capitalismo do Estado Providência.

As classes trabalhadoras precisam e merecem algo melhor do que isso, agora mais do que nunca.

[*] Professor de Ciências Económica na Universidade de Massachusetts - Amherst. Autor de numerosos livros e artigos , incluindo (com Stephen Resnick) Class Theory and History: Capitalism and Communism in the USSR (Routledge, 2002) e (com Stephen Resnick) New Departures in Marxian Theory (Routledge, 2006).

O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/wolff041207.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Dicionário de Eufemismos


Venezuela: Dicionário de eufemismos da oposição liberal
por James Petras

Nos nossos tempos, os discursos e os escritos políticos são em grande medida a defesa do indefensável... Assim, a linguagem política tem de consistir sobretudo de eufemismos, de circunlóquios e de imprecisões absolutamente turvas... Tal fraseologia é necessária se alguém quiser nomear as coisas sem apelar aos respectivos quadros mentais. George Orwell, "Politics and the English Language", em Why I Write.
O processo político venezuelano no período pós-referendo (após 02/Dezembro/2007) experimentou um debate de largo alcance, no qual têm participado tanto críticos como apoiantes do caminho venezuelano para o socialismo. A extrema-direita e o Departamento de Estado dos EUA têm focado exclusivamente aquilo a que chamam a reacção popular contra o "autoritarismo" do Presidente Chavez, a sua "agenda radical" e têm procurado explorar a ocasião a fim de desacreditar o Presidente através da sabotagem dos esforços de Chavez (apoiado pela França e a maior parte dos regimes latino-americanos) para negociar uma troca de prisioneiros entre as guerrilhas das FARC-EP e o regime de Uribe na Colômbia.
Duas semanas após o referendo, o Governo Federal [dos EUA] fabricou um processo ligando o governo venezuelano a uma tentativa de financiar as eleições presidenciais na Argentina. A ofensiva de propaganda dos EUA e da extrema-direita falhou e atear qualquer resposta no interior da Venezuela e fracassou completamente.. Todos os principais aliados americanos na Europa (excepto a Inglaterra) e na América Latina (excepto o México e o Chile) repudiaram os ataques americanos contra Chavez. O discurso político anti-Chavez que tem tido alguma repercussão na Venezuela e em outros países, especialmente entre liberais, políticos, activistas progressistas e académicos social-democratas, tem sido articulado por académicos venezuelanos ligados a ONGs financiadas por fundações estrangeiras e que se posicionam como "centro-esquerda".
Uma leitura crítica textual dos escritos da centro-esquerda revela uma narrativa repleta de eufemismos, restrita à linguagem e retórica dos movimentos sociais mas que quando desconstruída revela uma hostilidade básica para com a análise de classe e a transformação social. Tal como George Orwell escreveu outrora, os intelectuais políticos são os mestres dos eufemismos, utilizando linguagens que obscurecem o significado de políticas reaccionárias. "A linguagem política é concebida para fazer com que mentiras soem verdadeiras e o assassínio respeitável, a fim de dar uma aparência de solidez ao simples vento" (George Orwell, Why I Write).
A RETÓRICA LIGHT
Os ideólogos académicos de centro-esquerda da Venezuela dominaram todo um repertório de eufemismos, os quais põem em acção para atingir objectivos políticos específicos: Unir tecnocratas e liberais incrementalistas no governo Chavez com a oposição liberal a fim de bloquear qualquer transformação social igualitária das relações de propriedade e da transição para o socialismo. Como declarou um dos mais ilustres estadistas e antigo ministro da Cultura de Cuba, Armando Hart, "A batalha de ideias é parte integral da luta pelo socialismo". Um primeiro passo para desmistificar a retórica da centro-esquerda corporificada na sua narrativa contra-revolucionária é aplicar a análise crítica a alguns dos eufemismos políticos chave que eles utilizam para atacar o governo Chavez e as suas políticas.
Eufemismos são abusos de linguagem utilizados pelos professores anti-Chavez para obscurecer interesses ideológicos e de classe e as suas lealdades. Para os objectivos deste ensaio, seleccionei um texto de Edgardo Lander, um eminente sociólogo venezuelano e crítico das tendências revolucionárias no governo chavista.
O seu ensaio "El Proceso político en Venezuela entra en un encrucijada crítica" é um exemplo excelente da utilização da linguagem política a fim de ofuscar as realidades políticas, confiando em eufemismos para dar "uma aparência de solidez ao que é puro vento".
No período pós-eleitoral, os críticos de centro-esquerda pediram um retorno ao "pluralismo" como um antídoto ao "autoritarismo". "Pluralismo" é um eufemismo para uma sociedade de classe (múltiplas classes = plural), na qual a classe capitalista domina o sistema eleitoral ("partidos plurais" = dominação pelos capitalistas que os financiam). "Pluralismo" é um eufemismo comum utilizado pelos académicos burgueses porque é um conceito vago e abstracto que obscurece as questões dos donos da propriedade e da concentração dos meios de produção e de comunicação. Na realidade, não há nada "plural" quanto às democracias capitalistas, por qualquer medição de poder e riqueza. A existência de múltiplas classes, políticos e partidos conta-nos pouco ou nada acerca das relações sociais, concentração de poder e desigualdades de acesso ao Estado.
DE QUEM É INDEPENDENTE UM BC?
Os críticos académicos de Chavez escrevem acerca da "independência do Banco Central". Esta noção vaga e abstracta implora a pergunta: independência de quem e para que interesses e propósitos? Bancos Centrais que não prestam contas a responsáveis eleitos respondem aos mercados financeiros, ou mais precisamente aos banqueiros internacionais e locais e aos investidores. Isto é obviamente o caso em quase todas as democracias capitalistas onde a selecção dos governadores do Bancos Centrais é baseada nos seus laços, histórias e relacionamentos favoráveis ("confiança") com o capital financeiro internacional. Em contraste, um Banco Central sujeito ao controle de responsáveis eleitos pode ser influenciado pelos eleitores, pela opinião pública e por movimentos sociais que os pressionem por políticas monetárias favoráveis.
Quando liberais objectam ao aumento do acesso das classes populares ao governo e à perda do monopólio da classe média em relação às verbas orçamentais do governo, eles recorrem a apelos a "políticas abertas". Isto é nomeadamente a reabertura das portas da frente da decisão política a conselheiros académicos liberais e social-democratas. "Políticas abertas" é um refrão apregoado frequentemente pelo Estado imperial americano quando as suas ONGs financiadas por fundações e redes políticas que pressionam pela "mudança de regime" consideram difícil avançar devido à maior vigilância para frustrar as suas operações de desestabilização. A questão evitada pelos críticos académicos é "aberta" para quem e "para que interesses políticos"? No caso da Venezuela, a "falta de abertura" real é em grande medida uma função do controle monopolista da oposição sobre 90% dos media electrónicos e impressos e do predomínio ideológico de académicos da oposição em universidades públicas e privadas e nas salas de aula (incluindo a Universidade Central da Venezuela). Em contraste, os sindicatos, associações comerciais, movimentos da sociedade civil de todas as tendências têm florescido durante a década Chavez – no que é talvez a mais vibrante expressão de "políticas abertas" no Hemisfério Ocidental. Nestas condições, o que significa então o apelo pelo recurso a "políticas abertas"? É simplesmente uma "defesa do indefensável" – a manutenção do controle monopolista privado dos mass media contra quaisquer tentativas de expandir e aprofundar o acesso popular e o controle sobre os meios de comunicação. Os académicos liberais não podem declarar simplesmente: "Não democratizem os media, nós defendemos o direito de os grandes conglomerados privados controlarem os media, incluindo o seu direito a incitar e defender golpes militares". Ao invés disso eles recorrem a eufemismos vazios como "políticas abertas" – com o efeito de desarmar o governo popular e minar suas tentativas de abrir o acesso dos mass media às classes populares e aos seus interesses. Uma das formas mais insidiosas dos esforços das classes dominantes americanas e europeias para minarem movimentos de massa autónomos é o financiamento, treino e proliferação das enganosamente auto-etiquetadas "Organizações Não Governamentais" (ONGs). Os críticos académicos liberais (CAL) do governo democraticamente eleito de Chavez reflectem e imitam a retóricas das ONGs – acusando a Venezuela de falta de participação popular e desencorajando "o debate aberto e democrático". Os CAL nunca consideram a anomalia de que os líderes das ONGs nunca sejam eleitos, que as suas propostas de financiamentos externos nunca sejam debatidas ou votadas pelos seus auto-designados beneficiários e que elas moldem as actividades a fim de induzir os doadores das elites estrangeiras a financiarem os seus salários em divisas duras e veículos 4x4, computadores portáteis e a sua "equipe de secretárias", etc... Os maiores inimigos da responsabilização democráticas são as ONGs que nunca são criticadas ou mesmo mencionadas nos escritos políticos dos CAL no "processo político" venezuelano. A influência difusa e a proliferação de ONGs não é um factor menor no "processo político", menos ainda na Venezuela. À escala mundial há mais de 100 mil ONGs a receberem mais de US$20 mil milhões de dólares/euros dos centros imperiais. Ao contrário das auto-nomeadas ONGs e dos seus líderes e conselheiros académicos liberais, o Presidente Chavez consultou o eleitorado uma dúzia de vezes em eleições livres e abertas. Os seus programas são financiados pelos contribuintes venezuelanos e sujeitos à aprovação ou rejeição de legisladores eleitos.
Os académicos liberais ao invés de exprimirem abertamente a sua objecção ao crescimento radical do apoio de massa organizado e ao debate referente aos programas socio-económicos do Presidente Chavez, recorrem a eufemismos acerca do estilo "plebiscitário" de governação – esquecendo as autoritárias lições ditadas nas suas salas de aula estimuladas por administradores "eleitos" por um estreito círculo de professores com emprego vitalício.
ESTRANHA AMÁLGAMA
Alguns dos eufemismos mais em voga dos críticos académicos liberais são "anti-estatismo", "sociedade civil" e "economia de mercado".
"Estatismo" evoca e está associado com uma poderosa estrutura vertical insensível que oprime e empobrece o povo, e que responde apenas a burocratas autoritários. Apesar de não haver dúvida que várias agências do Estado na Venezuela são ineficientes e falham na execução dos programas do governo (especialmente políticas redistributivas), apesar da propriedade pública e das políticas fiscais, especialmente a política energética tem conduzido a um vasto aumento do financiamento de serviços públicos (saúde, educação e distribuição de alimentos) para os 60% de venezuelanos com rendimento mais baixo. A oposição ao "estatismo" traz consigo uma estranha amálgama de liberais autoritários da extrema-direita (Hayek, Friedman), neoliberais social-democratas (Blair, Giddens, Lula, Sarkozy e seus seguidores venezuelanos) e anarquistas libertários. As principais fontes de financiamento dos think tank, jornais e investigações dos críticos do "estatismo" são a Fundação Ford, as Fundações Ebert e uma sopa de letras de siglas de outras instituições da classe dominante. A demonização do "Estado" é o que junta os ideólogos da extrema-direita e do centro-esquerda. Em nome da "liberdade" anti-estatista, das actividades sem restrições, desregulamentadas e vorazes de capitalistas privados nacionais, os monopólios, bancos e corporações transnacionais podem florescer. O Estado é a única instituição potencialmente capaz de conter, controlar e confrontar as corporações privadas gigantes. A questão fundamental não é o "anti-estatismo" mas a natureza de classe do Estado e sua responsabilidade para com a maioria do povo trabalhador. O mais oco e enganoso conceito manipulado pelos "anti-estatistas" críticos académicos liberais do Presidente Chavez é o de "sociedade civil" quando falam em "apoiar a sociedade civil contra o Estado".
"Sociedade civil" é um eufemismo para sociedade de classe, é um conceito que oculta divisões de classe fundamentais, organizações de classe conflitantes e relações de exploração. Versões abastardadas de "Escritos da prisão", de Gramsci, onde os seus censores fascistas forçaram-no a adoptar uma linguagem de Esopo, foram adoptadas pelos académicos liberais ao escreverem acerca de uma homogénea (sem classe) "sociedade civil" contra o "Estado" (opressivo). Na Venezuela, a "sociedade civil" está longe de ser homogénea, como é evidente com as suas profundas divisões de classe, polarização política e o abismo entre estratos da maioria popular que apoiam o Estado (liderado por Chavez) as classes altas. O discurso de oposição à "sociedade civil" é um dispositivo retórico utilizado pelos burocratas das ONGs e elites académicas liberais para obscurecerem a sua prática de colaboração de classe, o seu apoio ao capital privado contra a propriedade pública e atraírem assim grandes ajudas monetárias dos seus patrocinadores imperiais.
Um dos eufemismos mais habitualmente utilizados é a referência por parte dos críticos liberais e social-democratas das políticas de Chavez à "economia de mercado". Trata-se de outro esforços para dar uma aparência de solidez ao que é puro vento. Os mercados existiram durante milhares de ano por todo o mundo sob uma grande variedade de sociedades e economias – desde a tribal, feudal, escravocrata, mercantil, capitalismo competitivo e monopolista. Há mercados locais baseados em produtores de pequena escala e mercados mundiais dominados por menos de um milhar de corporações multinacinais e instituições financeiras. A utilização de "economia de mercado" evoca imagens falsas de transacções por produtores/países iguais, recordando um passado que nunca existiu. A real "economia de mercado" existente é dominada pela competição e cooperação em grande escala de monopólios, os quais penetram todas as economias não reguladas. O seu poder e exploração só pode ser contido por Estados nacionalistas ou socialistas que prestam contas a movimentos de classe organizados e ao planeamento central. Qualquer discussão honesta e leal deve colocar a questão das estratégias económicas e do papel do Estado e do mercado na sua apropriada moldura histórico-mundial: capital imperial, Estado nacional, movimentos e instituições com base de classe. Quando questões de democracia e participação são discutidas seriamente, o foco não deveria ser exclusivamente sobre Estados mas deveria incluir também associações influentes na sociedade. Não há qualquer discussão ou menção, por parte dos teóricos liberal democratas venezuelanos, da pluralidade de associações autoritárias, não participativas e dominadas pelas elite de negócios, organizações cívicas, conglomerados privados de media, partidos tradicionais e sindicatos. Os seus líderes são reeleitos repetidamente (alguns pela vida toda) sem discordância ou competição e nem mesmo consulta aos seus membros. Os académicos liberais, além de ignorarem a estrutura vertical profundamente autoritária das instituições dominantes na "sociedade civil", falham até mesmo em colocar a questão de como esta pluralidade da instituição ditatorial da elite é compatível com a democracia. A cegueira analítica e moral dos académicos liberais para com o profundamente enraizado domínio arbitrário sobre a cultura, a economia e a sociedade por parte desta elite anti-democrática é o outro lado da moeda da sua preocupação unilateral com o défice democrático em instituições públicas eleitas e em partidos, sindicatos e associações de moradores favoráveis a Chavez. A profunda falta de clareza dos críticos de Chavez e do expoentes da ideologia liberal está intimamente relacionada com o seu pressentimento de que falar claramente e com precisão desmascararia a sua defesa dos mercados capitalistas; a sua oposição ao "estatismo" como oposição à propriedade pública; o seu apoio a instituições autoritárias da elite é a sua defesa da "sociedade civil"; a sua oposição às iniciativas radicais com base de massa de Chavez é apresentada como "autonomia popular".
O MICROSCÓPIO E O TELESCÓPIO Os métodos dos críticos académicos liberais são tão reveladores da sua política reaccionária quanto as suas mal disfarçadas lealdades à classe dominante. Eles utilizam o microscópio para detectar defeitos no tecido dos movimentos sociais pro-Chavez, eleitores e políticas do governo Chavez, e um telescópio para descrever a descarada intervenção e colaboração em grande escala e a longo prazo do Estado imperial americano com os seus aliados venezuelanos. As exigências liberais são direccionadas unilateralmente para um lado do processo político. Um profundo criticismo em relação às organizações de Chavez, mas não para com os estudantes e académicos que foram financiados pelas agências do Estado americano. Aparentemente, a académicos que aceitam dinheiro do National Endowment for Democracy não se deveria pedir para "repensar criticamente" a sua colaboração com uma potência imperial que se comprometeu a destruir instituições democráticas. Os críticos académicos liberais confiam em subjectivos mexericos anedóticos para alimentar o seu rancor anti-Chavez, ao invés de factos abertos ao público. Preferem especular sobre a "ambiguidade presidencial" quanto ao resultado do referendo ao invés de ouvir e observar o imediato e franco reconhecimento da derrota no referendo pelo Presidente Chavez. A linguagem política do eufemismo é destinada a fazer com que mentiras soem verdadeiras, tornar a regra da exploração de classe respeitável e dar à retórica liberal-democrata a aparência de solidez. Este breve inventário do eufemismo é concebido para desmascarar as ideologias do anti-chavismo "light" e estimular o avanço do socialismo venezuelano.
05/Janeiro/2008 O original encontra-se em www.abpnoticias.com/boletin_temporal/contenido/articulos/petras_eufemismo.html Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Distribuição da riqueza

Pela primeira, vez estatísticas fiáveis sobre a distribuição da riqueza no mundo

· Estudo do World Institute for Development Economics Research (WIDER)
por Michael R. Krätke [*]

Os Pobres e os Muito Ricos

Foi há mais de mais de 250 anos que a Academia de Dijon (1754) lançou uma pergunta e ofereceu um prémio a quem conseguisse respondê-la: Qual é a origem da desigualdade entre os homens? Será porventura a consequência de uma lei natural? Jean Jacques Rousseau interessou-se pela pergunta, e em resposta escreveu a sua obra Sobre a origem da desigualdade entre os homens. Como apontou Rousseau, a desigualdade social e política não é natural, não deriva da vontade divina, nem sequer é uma consequência da desigualdade natural entre os homens. Pelo contrário, a sua origem é o resultado da propriedade privada, da apropriação privada da riqueza do mundo inteiro, e dos benefícios privados derivados dessa apropriação. Desde esse momento, tentar explicar a origem da desigualdade social tornou-se uma questão central para as ciências sociais, e também desde essa altura, que a crítica à sociedade burguesa aponta tanto para mostrar a estrutura da desigualdade social, como a da falta de liberdade – intimamente ligada à desigualdade – de uma imensa maioria das pessoas por todo o mundo. É já bem conhecido que actualmente milhares de milhões das pessoas estão condenados a subsistir com menos de um dólar por dia, e que a metade da população mundial vive com apenas 2 dólares diários. Também sabemos que a desigualdade mundial aumenta rapidamente, e que a desigualdade entre "pobres" e "ricos" dentro dos países está a aumentar. Nos tempos de Rousseau – de acordo com os dados conhecidos – a desigualdade económica entre as diferentes regiões do mundo era menor. Desde 1800 a situação mudou radicalmente. Aproximadamente a partir do ano 1900 alargou-se o fosso entre o nível de rendimento médio nos países ricos do "norte", e o dos países pobres do "sul", até chegar a uma proporção de 1 para 4. Um século depois, na era da globalização, a proporção é de 1 para 30. O ferro em brasa Por conseguinte, está a aumentar o fosso entre ricos e pobres, ainda que ultimamente pareça ter diminuído o número de pobres em termos absolutos. Isto deve-se principalmente à ascensão dos "países emergentes" como a China, Índia, Brasil, Sul Coreia e Turquia. Porém, agora, tal como antes, existem 2,8 mil milhões de pobres no mundo inteiro, e 1,3 mil milhões vivem na miséria. Na Alemanha, um dos países mais ricos, o número de pobres cresceu até chegar a 13,5% da população, como entretanto ficou explícito em dois relatórios do governo sobre a pobreza. Uma boa prova disso está na incapacidade dos sete anos do governo vermelho-verde. Os estudos científicos sobre a distribuição da riqueza e da pobreza são escassos. Os relatórios mais actuais sobre a evolução dos rendimentos datam de 1998. A medição da desigualdade social mundial nunca foi um assunto prioritário para o Banco Mundial ou para o FMI. Apenas o foi para as Nações Unidas. O relatório sobre o Desenvolvimento Social Mundial de 2005 considera que a crescente desigualdade económica entre as diferentes regiões do mundo e dentro dos próprios países é a causa decisiva da violência e do perigo de guerra (civil), e duvida que seja possível aproximar-se e, menos ainda, alcançar a meta para o milénio fixada pela Conferência Mundial de Copenhaga de 1995: reduzir a pobreza mundial a metade.Pouco antes do fim do ano, o Instituto Mundial para a Investigação do Desenvolvimento Económico – Word Instituto for Development Economics Research (WIDER) – da Universidade das Nações Unidas em Helsínquia, publicou um novo estudo, no qual pela primeira vez se investiga de modo detalhado a distribuição do rendimento, da riqueza e da sua evolução até ao ano 2000, englobando cerca de 94% da população mundial. Com este estudo, inicia-se a eliminação de uma grande lacuna na investigação, de que se queixara o governo federal alemão no seu relatório de 2006 sobre a pobreza. É do conhecimento geral que qualquer investigação que incida sobre a riqueza dos ricos e super-ricos de todo o mundo – assim como sobre as fortunas privadas ou sobre o capital, bases do poder mundial actual – será sempre um ferro em brasa do qual a ciência social oficial tem sistematicamente afastado os dedos. Há muito que sabemos – através dos estudos nos diferentes países – que em geral a distribuição da riqueza é ainda mais desigual do que a dos rendimentos. Para ter uma imagem mais exacta da real desigualdade económica é necessário analisar ambos os parâmetros, isto é, riqueza e rendimento. Os investigadores do estudo do WIDER fizeram-no pela primeira vez. Graças ao seu trabalho pioneiro, contamos finalmente com dados medianamente fiáveis sobre a relação entre ricos e pobres, e sobre a riqueza no mundo de hoje. Investigou-se a distribuição global da riqueza na população adulta em função do rendimento familiar (liquido, após deduções). O estudo chega até ao ano 2000; dados mais recentes não estão disponíveis à escala planetária. O WIDER só pôde contar com estatísticas completas para um número relativamente pequeno de 18 países. Para um conjunto bem maior de outros teve de se contentar com dados obtidos de inquéritos, os quais, como é óbvio, têm um tremendo inconveniente: as dívidas e o património financeiro (particularmente o imobiliário) em geral não são apanhados na sua totalidade, mas sim num nível muito inferior. Isso está reflectido nas estimativas dos autores, que se viram obrigados a extrapolar para 150 paíseoos dados obtidos das estatísticas do conjunto de 38 países.·
Existem 499 possuidores de riqueza no mundo com fortunas de valor igual ou superior a mil milhões de dólares, segundo o estudo “ A distribuição mundial da riqueza familiar” elaborado por investigadores da Universidade das Nações Unidas. O estudo revela que os 2% dos adultos mais ricos do mundo, possuem mais de metade de toda a riqueza mundial.
Na primeira divisão dos ricos.Do material recolhido conclui-se o seguinte: cerca de 90% da riqueza mundial (rendimento familiar líquido) está concentrado na América do Norte, na Europa e na região pacífico-asiática (Japão e Austrália). Só ao norte do continente americano, com 6% da população adulta mundial, corresponde um terço do rendimento mundial; à Índia, com mais de 15% da população adulta mundial, pelo contrário, corresponde apenas um escasso 1%. Porém, também entre os países ricos do norte o nível de riqueza varia de um modo significativo. Dos 1% dos rendimentos familiares privados mais elevados em termos mundiais, à Irlanda corresponde 10,4%; à Suíça, não menos que 34,8%; e aos EUA (devido à notória incompletude dos dados acerca dos muito ricos), "só" uns 33%. A isto há que acrescentar que aos grupos situados no topo dos 10% dos rendimentos mais elevados nos EUA corresponde quase 70% do rendimento familiar privado de todo o país; na China, os 10% do topo detêm exactamente 40% do rendimento familiar privado. Quem quiser pertencer à primeira divisão dos ricos deste mundo, deverá ter uma fortuna superior a 500.000 dólares. Este grupo de topo compreende um total de cerca de 37 milhões de adultos. No entanto, desde o ano 2000, a soma mínima para aceder a este grupo aumentou, segundo se estima, uns 32%. Daqui se conclui que uns bons 85% da riqueza mundial pertencem ao decil mais elevado. Para estar nesse grupo de 10% de eleitos, é necessário possuir, em média, quarenta vezes mais que o cidadão médio do mundo. Na metade de baixo dessa pirâmide, no entanto, a metade da população mundial adulta tem de se conformar com 1% da riqueza mundial. Tomemos a famosa tarte, o prato predilecto de senhoras e cavalheiros conservadores que se querem convencer, e convencer-nos, de que qualquer redistribuição não tem sentido, na medida em que, como é óbvio, não se pode distribuir mais do que se produz. Transportemos a estrutura da distribuição mundial da riqueza para um grupo de dez pessoas que repartem a tarte tradicional. Temos então de imaginar um cavalheiro que reclama para si 99% da tarte, enquanto os restantes nove têm de dividir entre si o sobrante, ou seja, 1%. Se a tarte fosse redistribuída, o cavalheiro não morreria, e os outros nove ficariam muito melhor. Onde estão os ricos e os muito ricos da Terra? A América do Norte, a Europa, o Japão e a Austrália já foram mencionados. Nos EUA, por exemplo, vivem 37% dos muito ricos; a seguir vem o Japão com 27%. Ao Brasil, Índia, Rússia, Turquia e Argentina, corresponde-lhes, a cada um, um escasso 1% do grupo de topo global; a China já tem uns 4,1% dos cidadãos mais ricos no mundo. De acordo com o estudo WIDER, no ano 2000 já havia 13,5 milhões de pessoas que detinham mais de um milhão de dólares (notoriamente mais do que indicam os estudos dos administradores de fortunas Merrill-lincham e Forbes), e exactamente 499 fortunas de mais de mil milhões de dólares.
Agora serão bastante mais.

12/Janeiro/2007
[*] Analista político especializado em problemas sociais e económicos, colaborador do semanário alemão Freitag.
Tradução de MJS.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

quarta-feira, 14 de maio de 2008

A Fome Infame

A fome do mundo é a nova fonte de lucros do grande capital financeiro, e os seus lucros aumentam na mesma proporção que ela

O escândalo, finalmente, estalou na opinião pública: a substituição da agricultura familiar, camponesa, orientada para a auto--suficiência alimentar e os mercados locais, pela grande agro-indústria, orientada para a monocultura de produtos de exportação (flores ou tomates), longe de resolver o problema alimentar do mundo, agravou-o. Cerca de um sexto da humanidade passa fome; segundo o Banco Mundial, 33 países estão à beira de uma crise alimentar grave; mesmo nos países mais desenvolvidos, os bancos alimentares estão a perder as suas reservas; e voltaram as revoltas da fome.
A opinião pública está a ser desinformada sobre esta matéria, para que se não dê conta do que se está a passar. Porque é explosivo: a fome do mundo é a nova grande fonte de lucros do grande capital financeiro e os lucros aumentam na mesma proporção que a fome. A fome no mundo não é um fenómeno novo. Ficaram famosas na Europa as revoltas da fome, desde a Idade Média até ao século XIX. O que é novo são as suas causas e o modo como as principais são ocultadas.
A opinião pública tem sido informada de que o surto da fome está ligado à escassez de produtos agrícolas (e que esta se deve às más colheitas provocadas pelas alterações climáticas); ao aumento de consumo de cereais na Índia e na China; ao aumento dos custos dos transportes devido à subida do petróleo; à crescente reserva de terra agrícola para produção dos agro-combustíveis. Todas estas causas têm contribuído para o problema, mas não são suficientes para explicar que o preço da tonelada do arroz tenha triplicado desde o início de 2007. Estes aumentos especulativos, tal como os do preço do petróleo, resultam de o capital financeiro (fundos de pensões, fundos hedge, de alto risco e rendimento) ter começado a investir fortemente nos mercados internacionais de produtos agrícolas, depois da crise do investimento no sector imobiliário.
Em articulação com as grandes empresas que controlam o mercado mundial de sementes e de cereais, o capital financeiro investe no mercado de futuros na expectativa de que os preços continuarão a subir, e, ao fazê-lo, reforça essa expectativa. Quanto mais altos forem os preços, mais fome haverá no mundo, maiores serão os lucros das empresas e os retornos dos investimentos financeiros. Nos últimos meses, os meses do aumento da fome, os lucros da maior empresa de sementes de cereais aumentaram 83 por cento. Ou seja, a fome de lucros da Cargill alimenta-se da fome de milhões de seres humanos.
O escândalo do enriquecimento de alguns à custa da fome e subnutrição de milhões já não pode ser disfarçado com as «generosas» ajudas alimentares. Tais ajudas são uma fraude que encobre outra maior: as políticas económicas neoliberais que há 30 anos têm vindo a forçar os países do Terceiro Mundo a deixar de produzir os produtos agrícolas necessários para alimentar as suas próprias populações e a concentrar-se em produtos de exportação, com os quais ganharão divisas que lhes permitirão importar produtos agrícolas... dos países mais desenvolvidos. Quem tenha dúvidas sobre esta fraude que compare a recente «generosidade» dos EUA na ajuda alimentar com o seu consistente voto na ONU contra o direito à alimentação, votado por todos os outros países.
A revolta contra a fome é mais um aviso contra as consequências da destruição do bem-estar dos povos para benefício exclusivo de um pequeno grupo de países. Para lhes responder eficazmente será preciso pôr termo à globalização neoliberal. O capitalismo global tem de voltar a sujeitar-se a regras que não as que ele próprio estabelece para seu benefício. Os cidadãos têm de começar a privilegiar os mercados locais, recusar nos supermercados os produtos que vêm de longe, exigir do Estado e dos municípios que criem incentivos à produção agrícola local, exigir da UE e das agências nacionais para a segurança alimentar que entendam que a agricultura e a alimentação industriais não são o remédio contra a insegurança alimentar. Bem pelo contrário.

O Espectro da Fome

Mário Soares

1 . De repente, quase inesperadamente, quando nos nossos ouvidos incautos ainda ecoavam as promessas do início do século, subscritas por todos os Chefes de Estado do Planeta, da imediata necessidade da luta contra a pobreza à escala global -, onde isso já vai?! - um espectro seriíssimo abala o mundo: a fome, uma realidade premente que começa a afectar muitos milhões de seres humanos, em mais de 30 países de África, Ásia e América Latina, susceptível de provocar revoltas, conflitos, motins, massacres, nunca vistos. E, curiosamente, os alertas, angustiados, não vêm só de teóricos ou de revolucionários. Chegam-nos de instituições consideradas "respeitáveis", como: o FMI (Fundo Monetário Internacional, de má memória), o Banco Mundial, a OMC (Or- ganização Mundial do Comércio), a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o PAM (Programa Alimentar Mundial). Porquê? Porque desde há alguns meses os preços dos géneros alimentares de primeira necessidade (trigo, milho, centeio, arroz, leite, carne, ovos, legumes, etc.) estão a subir em flecha, por razões de escassez, de algum proteccionismo dos países produtores e também - obviamente - por especulação.Quando a crise financeira-bolsista, do imobiliário, a queda do dólar, como moeda internacional de referência, o aumento do preço do petróleo e do gás, e também a recessão económica, que toca à América do Norte (desemprego, agravamento do custo de vida, mal-estar social), está a alargar-se à União Europeia. É uma questão de tempo. Nada poderia ser pior. Contudo, as dificuldades crescem todos os dias e, com elas, os conflitos sociais e políticos. Inevitavelmente. Sem que os especialistas mais reputados - e os governantes - apresentem políticas coerentes capazes de responder às múltiplas crises que afectam o mundo...A situação dificílima que chegou com pés de lã e todos os dias se agrava aproxima-se da grande crise do capitalismo de 1929. A globalização neoliberal desacreditou-se, sem remédio. O hegemonismo da hiperpotência dominante tornou-se uma miragem. O mundo voltou a ser multilateral. As dificuldades tocam a todos, em maior ou menor grau, embora os países mais pobres sejam os primeiros a sofrer. Chegará à Europa, não tenhamos dúvidas. Não pensemos que Portugal será uma excepção... Não será. Apesar dos esforços positivos do Governo para evitar os desgastes. Teremos de voltar rapidamente e em força a uma agricultura intensiva, aproveitando todos os bocados de terra cultivável que nos restam, das auto-estradas, do betão, da especulação imobiliária, sem qualquer razão de ser. E de voltar também a planos sociais de emergência, eficazes, que cheguem aos mais carecidos. No momento em que estamos - atenção - só excepcionalmente os privados nos poderão valer. É para o Estado Social e participativo que todos se voltarão. Como sempre acontece na hora da verdade.
2.Uma nota positiva. Barack Obama aí está, a caminho de vencer Hillary Clinton e já a pensar no duelo vitorioso contra o republicano John Mc- Cain. Hillary é ainda - parece - favorita na Virgínia e em Porto Rico, onde Obama evitou fazer campanha. Mas os jogos, julgam os observadores, estão feitos. Obama está muito à frente nos Estados votantes e mesmo nos superdelegados, embora nestes com curta vantagem. Pela primeira vez. E o que conta agora é o dinamismo que está criado, entre a juventude, os intelectuais, os cientistas e tudo o que conta na América pioneira e inovadora. É bem preciso, em tempo de crise e de intenso mal-estar.
3.Dois livros importantes. No curto espaço de poucos meses, saíram, em Portugal, dois livros, extremamente interessantes, para o conhecimento da história contemporânea portuguesa após a Revolução dos Cravos: o que estava em jogo e as suas consequências possíveis. Ambos, com uma informação rigorosa, reflectindo as visões necessariamente opostas, soviética e americana, das duas superpotências rivais, nesse tempo, relativamente à Revolução portuguesa de 1974-1975. Curiosamente, a Revolução foi completamente inesperada - e constituiu mesmo uma surpresa - para ambas. Os livros editados por Temas e Debates e Alêtheia Editores têm por autores o russo Sergei Yastrzhembskiy, que esteve vários meses em Portugal, nesse período, e pelo jornalista português Nuno Simas, que teve acesso - e transcreve - aos documentos secretos americanos, agora desclassificados, desse período. Intitulam-se respectivamente: Mário Soares e a Democracia Portuguesa, Vistos da Rússia; e Portugal Classificado - Documentos Secretos Norte-Americanos (1974-1975).Pelo seu rigor e novidade - e porque no fundo se completam, apesar de escritos de ângulos e perspectivas opostas - vale a pena lê-los, com atenção, para um melhor conhecimento do que foi a Revolução e o período conturbado do PREC, bem como do que esteve em jogo e dos riscos que então se correram...
4.Zapatero. O Rei de Espanha, D. Juan Carlos, saiu da sua habitual reserva e confiou ao Magazine de El Mundo um retrato conciso mas altamente expressivo do Presidente do Governo, José Luís Rodriguez Zapatero. "É um homem muito honesto. Muito directo. Não divaga. E é um ser humano íntegro." Nos tempos tão difíceis que correm, trata-se de um elogio excepcional e, quanto a mim, altamente merecido. Por isso, entendi dever registá-lo nesta modesta coluna.

Embaixada dos EUA Organiza Divisão da Bolívia

Direita boliviana conspira contra o governo de Evo Morales

A embaixada dos EUA organiza a divisão da Bolívia

Manuel Raposo - Terça-feira, 6 Maio, 2008

As forças da direita boliviana– empresários, banqueiros e grandes proprietários – movem contra o regime do presidente Evo Morales uma acção subversiva que procura travar o processo de nacionalizações e de reformas populares. Esta oligarquia, com o apoio dos EUA, reclama a autonomia em quatro das nove províncias (departamentos) do país, não por acaso as mais ricas. No departamento de Santa Cruz realizou-se no dia 4 de Maio um referendo, inconstitucional, para ratificar a autonomia, antes aprovada na assembleia do departamento. Mais três departamentos, Tarija, Beni e Pando, pretendem fazer o mesmo em Junho.Esta iniciativa procura antecipar-se ao referendo nacional sobre a nova constituição do país. A oligarquia boliviana procura assim ganhar localmente o que não consegue obter em escrutínio nacional, dado o forte apoio da população mais pobre à política de Evo Morales.O objectivo dos autonomistas é retirar poderes ao governo central, nomeadamente criando nos departamentos estruturas de polícia próprias e arrecadando largas parcelas das taxas aplicadas ao petróleo e gás natural com as quais Morales tem financiado projectos de apoio às populações pobres. Os autonomistas colocam assim em causa a repartição dos rendimentos nacionais de acordo com as necessidades das diversas regiões do país, cujos recursos são desiguais. Os grandes proprietários, que detiveram o poder durante 185 anos, desde a independência do país, nunca se preocuparam com a autonomia como agora. As razões estão na subida ao poder de um presidente indígena largamente apoiado pelos pobres. E à medida que as decisões do governo central lhes vão sendo desfavoráveis – em 1 de Maio Morales decretou a nacionalização da Empresa Nacional de Telecomunicações e anunciou a compra à Repsol de 51% da companhia petrolífera Andina – vai crescendo a conspiração.Evo Morales apontou explicitamente o envolvimento da embaixada dos EUA, acusando-a de estar a organizar o processo de divisão da Bolívia. É esta mesma conspiração que um vasto grupo de personalidades e activistas de várias nacionalidades – entre as quais Adolfo Pérez Esquivel (Argentina); Rigoberta Menchú (Guatemala); Noam Chomsky (EUA); Oscar Niemeyer (Brasil); Eduardo Galeano (Uruguai); Ignacio Ramonet (Espanha/França); Elena Poniatowska (México); Frei Betto (Brasil); Ernesto Cardenal (Nicarágua); Ramsey Clark (EUA)
– denuncia num abaixo assinado que circula na internet

terça-feira, 13 de maio de 2008

Novo Aeroporto de Lisboa e o Preço do Pretóleo

por Luis Queiros [*]

Com o preço do barril de petróleo (WTI) a roçar os 120 dólares na Bolsa de Matérias-Primas de Nova Iorque, é urgente que se reveja os cenários e os custos – feitos num pressuposto de energia abundante e barata – que estiveram na base da decisão de construir Alcochete. O sector do transporte aéreo tem crescido muito acima da economia global. De acordo com dados apresentados pelo comandante Cristopher Smith, da British Airways, nos últimos 10 anos o sector do transporte aéreo cresceu 2,4 vezes mais depressa do que o PIB mundial. Cerca de 90% da energia utilizada nos transportes deriva directamente do petróleo. A dependência dos combustíveis líquidos derivados do petróleo é particularmente elevada – deve mesmo dizer-se total – no sector aeronáutico, pois não existem alternativas energéticas ao fuel usado nos aviões. Está fora de questão, num futuro próximo, a utilização de energia eléctrica ou nuclear para propulsionar aeronaves comerciais. O fuel sintético já produzido na África do Sul a partir do carvão (CTL, coal to liquid ) não se mostra economicamente nem ambientalmente viável. Outras opções, como o etanol ou o biodiesel, têm fortes limitações técnicas relacionadas com a sua baixa densidade energética e com o seu comportamento físico nos intervalos de temperatura a que podem estar sujeitos. A nível mundial consome-se diariamente cinco milhões de barris de petróleo na aviação comercial, o que equivale a cerca de 15 vezes o consumo de Portugal. Um tal volume corresponde a cerca de 6% do consumo mundial de petróleo e só é superado pelo consumo individual de três países (EUA, China e Japão). Num cenário de business as usual, os crescimentos previstos para o sector aeronáutico nos próximos anos, que é o mesmo que dizer para o tráfego aéreo, indicam que a procura de fuel irá aumentar acima da média mesmo que se encontrem formas de optimizar os consumos, redesenhando rotas, segmentando percursos – longos percursos exigem mais combustível, logo, maior peso e maior consumo na descolagem – ou mesmo produzindo novos tipos de aviões. Mas é hoje uma opinião consensual que a maior ou menor disponibilidade de um combustível líquido derivado do petróleo, relativamente barato e adequado à aviação, terá fortes implicações no futuro do transporte aéreo e nos sectores da economia que lhes estão associados. Até agora a produção de petróleo respondeu à procura sempre crescente. Contudo, sendo o petróleo um recurso limitado e por isso esgotável, a grande questão é saber como se vai comportar a curva de abastecimento, no futuro, para responder ao acréscimo de procura. Entretanto, surgem um pouco por toda a parte sinais preocupantes: os EUA, desde 1970, deixaram de ser auto-suficientes, entraram em declínio de produção e já importam 60% do petróleo que consomem; a Noruega e o Reino Unido já estão a retirar cada vez menos petróleo do Mar do Norte (este, auto-suficiente nas últimas décadas, já teve de recorrer a importações em 2006!); no México, a jazida de Cantarel, a segunda maior conhecida no mundo, está em rápido esgotamento e este ano já produzirá menos 400.000 barris por dia do que no ano passado. Países de economias emergentes, como a China e a Índia, estão a aumentar o consumo e a importar cada vez mais petróleo e os novos produtores (Angola, Ásia Central, Brasil) parecem não chegar para compensar as perdas devidas às decrescentes produções de outras fontes e são igualmente insuficientes para responder ao aumento da procura. É certo que existem recursos abundantes daquilo a que se chama petróleo não convencional ( deep water, areias e xistos betuminosos do Canadá e Venezuela, exploração de zonas polares, produção a partir do carvão – coal to liquid ), mas com custos de produção bem mais elevados, prazos de exploração pouco confortáveis e implicações ambientais assinaláveis. A generalidade dos analistas, já contabilizadas todas as formas de produção incluindo os biocombustíveis, prevê que a breve prazo haverá um desajustamento entre a procura e a oferta de petróleo a nível global. Os mais pessimistas (Colin Campbell, Matt Simmons, Deffeyes) falam em dois a cinco anos e os mais optimistas (CERA – Cambridge Energy Reserach Associates, EIA – Energy International Administration) admitem que isso só acontecerá daqui a duas ou três décadas. Contudo todos são unânimes em que o desajustamento acontecerá mais cedo ou mais tarde. Grandes projectos com custos energéticos de construção avultados ou sujeitos a forte impacto energético na sua exploração têm de ser avaliados também nesta perspectiva. Ainda há meses, a propósito de uma notável conferência sobre o tema "The low carbon economy", proferida por David Miliband, na altura ministro inglês do Ambiente que alguns chegaram a apontar como o provável sucessor de Tony Blair, alguém questionava a oportunidade de investimentos como a construção ou ampliação de aeroportos. O novo aeroporto de Lisboa entrará em funcionamento, na melhor das hipóteses em 2017, e isso, tudo o indica, acontecerá num cenário de grande penúria energética. Tal irá certamente motivar fortes aumentos de preços dos combustíveis que afectarão os custos de construção e irão alterar de forma significativa as previsões de evolução do número de passageiros e, consequentemente, do número de voos. Reavaliar será, neste caso, sinónimo de sensatez.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A Nudez Odiosa Das Guerras Imperialistas

A doutrina de choque de Rosa Luxemburgo

por Ron Jacobs [*]
A "Doutrina de choque", de Naomi Klein, publicada em 2007, trata de um modo suave a dependência da economia capitalista quanto a eventos cataclísmicos para o seu progresso. Estes eventos deslocam milhões e provocam sofrimentos pessoais a um número ainda maior, enquanto asseguram a sobrevivência do capital. Um século atrás houve uma outra mulher que levou esta observação mais além e dedicou a sua vida para acabar com o capitalismo. Seu nome era Rosa Luxemburgo. Era uma polonesa que dedicou a vida à revolução socialista e foi assassinada em 1919 pelo governo social-democrata da Alemanha pela sua crença sem compromissos naquela revolução. A editora Haymarket Books de Chicago divulgou recentemente uma nova edição de dois dos seus ensaios mais conhecidos sob o título The Essential Rosa Luxemburg.

O volume é editado por Helen Scott, professor de literatura da Universidade de Vermont, e inclui uma introdução sua com várias páginas. O seu resumo histórico que antecede os dois panfletos reimpressos não só proporcionam ao leitor visão do momento histórico em que as peça foram escritas como também uma breve biografia de Luxemburgo e relaciona os seus argumentos políticos às circunstâncias de hoje. O livro inclui dois ensaios de Luxemburgo: "Reforma ou revolução" e "A greve de massa". Se bem que ambos sejam historicamente interessantes, é o primeiro ensaio deste livro que tem relevância particular para o mundo de hoje. Em especial, a discussão de Luxemburgo quanto ao capitalismo e a democracia fala ao mundo em que hoje vivemos. Como residentes do país que nunca cessou de auto-proclamar-se como o mais democrático do mundo, é importante prestar atenção às observações de Luxemburgo referentes à natureza das formas democráticas e da verdadeira democracia. Quando Washington exportava a sua versão de democracia para todo o mundo no rastro da Segunda Guerra Mundial, as populações de muitos países do terceiro mundo descobriram que esta democracia não era nada mais que uma eleição destinada a pavimentar o caminho para a exploração imperial e a dominação estado-unidense. Não havia democracia para aqueles que não faziam parte das elites dominantes. Isto é democracia capitalista e isto é o que Washington leva a outros países em nome da liberdade.Além disso, Luxemburgo argumenta que quando aquelas formas democráticas contrariam os interesses da elite capitalista elas também são desfeitas. Países do Terceiro Mundo dominados por golpes militares/da CIA, como o Chile e a Grécia, sabem isto demasiado bem. Ainda assim, mesmo aqui nos EUA aquelas formas estão a ser desfeitas. Sob o disfarce da segurança interna, muitas das liberdades garantidas na democracia estado-unidense foram dissolvidas. Muitas outras desapareceram sob o disfarce de uma guerra contra as drogas. Na verdade, mesmo o processo eleitoral dos EUA foi usurpado em 2000 sob o disfarce de proteger os supostos direitos minoritários de George Bush e aqueles que por ele votaram na Florida. Tal como o liberalismo, uma vez que já não sirva aos propósitos do capitalismo, ele é descartado. A história dos EUA e da Grã-Bretanha ao longo dos últimos trinta anos certamente prova isto — uma história em que mesmo liberais são conservadores (como Blair e Clinton) e os candidatos liberais de hoje modificam suas declarações para agradar a maior parte dos comentadores e redes da extrema direita. Outro assunto tratado por Luxemburgo e bastante relevante para os dias de hoje é a utilização do crédito para expandir o poder de compra da classe trabalhadora. No seu ensaio "Reforma ou revolução", o qual é escrito como uma argumentação contra o reformista social-democrata Bernstein, Luxemburgo ridiculariza sua caracterização do crédito como uma "adaptação" do capitalismo. Na realidade, argumenta ela, o crédito não apenas uma adaptação, mas reproduz "todos os antagonismos fundamentais do capitalismo". Na verdade, escreve ela, ele acentua aqueles antagonismos. O leitor de hoje não precisa senão olhar o actual colapso económico que começou no mercado habitacional porque os bancos e suas agências avançaram crédito a pessoas que eles sabiam não serem capazes de cumprir os acordos que assinaram como prova da declaração de Luxemburgo. O auge disto tudo é a guerra imperial. Luxemburgo foi mais clara sobre o papel que esta forma de assassínio em massa desempenha para facilitar a expansão do capital do que qualquer outra pessoa. Ela sabia e escreveu abundantemente sobre como a guerra é essencial para o desenvolvimento capitalista. A guerra imperial, escreveu ela, mostra o capitalismo em "toda a sua odiosa nudez". Esta nudez sangrenta não é apenas essencial para o desenvolvimento capitalista, mas este depende dela. Como escrevi, o actual regime em Washington está a progredir na sua mobilização para a guerra ao Irão, enquanto os seus opositores liberais no Partido Democrático dão palavras de apoio a este esforço para ganhar o controlo da banha que movimenta os motores do capital — petróleo. Enquanto isso, outras guerras por energia do imperialismo estado-unidense continuam a arrastar-se, em parte porque a oposição a tais guerra está confundida e impotente. Tal como a guerra no tempo de Luxemburgo, o actual impulso rumo a uma guerra maior é primariamente acerca do lucro. É uma desgraça (para dizer o mínimo) que ainda tenhamos de aprender as lições que Luxemburgo e seus contemporâneos entenderam a uma centena de anos atrás acerca de tais guerras, especialmente porque as armas hoje utilizadas são ainda mais mortais do que aquelas da Primeira Guerra Mundial. Igualmente desgraçado é o facto de que aqueles que se opõem à guerra imperialista tenham de aprender outra vez as lições de outras partes do mundo do incrível movimento contra tais guerras.


Autor de The Way the Wind Blew: A History of the Weather Underground e Short Order Frame Up . O seu ensaio Big Bill Broonzy é apresentado na colecção do CounterPunch, Serpents in the Garden: Liaisons With Culture & Sex . Email: rjacobs3625@charter.net . O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/jacobs05102008.html Via : http://resistir.info/eua/jacobs_mai08.html

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