quarta-feira, 18 de junho de 2008

Deserto

Portugal, um dos três países mais desertificados da Europa, ficou ontem a saber que daqui até 2020 a desertificação pode avançar à razão de mais de 1 km por ano.

Tal como pode ser sustida. Tudo depende de uma gestão adequada dos bosques de sobreiro, cuja importância é considerada fundamental, por organizações globais de defesa da natureza, no combate ao avanço da desertificação. A notícia, porém, segue-se a uma outra dando conta do abate de milhares de sobreiros para abrir caminho à monocultura do olival nas novas ‘fincas’ do sul do Alentejo. Notícias anteriores deram conta do abate de muitos mais sobreiros, neste caso para darem lugar a megaprojectos turísticos, geralmente promovidos pela disponibilidade de campos de golfe, sorvedouros insaciáveis de água.

Também o Algarve anunciou o seu programa de combate à desertificação, ao mesmo tempo que todos os dias são projectados e dia-sim, dia-não são aprovados novos mega-empreendimentos turísticos na região. Claro que tanto os empreendedores como os decisores sabem que basta o elevadíssimo consumo de água dos empreendimentos do turismo massificado e betonado para assegurar o avanço da desertificação. Sendo Portugal um quintal dos interesses, como é que alguém pode pretender travar o caminho inexorável do país para a desertificação? Só por ingenuidade ou por demagogia.

Uma terceira e decisiva mistificação reside em propalar o combate à desertificação e, em simultâneo, promover o despovoamento de vastas regiões do país, a liquidação das actividades locais, a falta de incentivos à fixação de população jovem, o fecho de escolas e de hospitais. As políticas das últimas décadas são o maior adubo da desertificação. E o resto é paisagem.

jpguerra@economicasgps.com

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1136156.html

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