segunda-feira, 12 de maio de 2008

A Nudez Odiosa Das Guerras Imperialistas

A doutrina de choque de Rosa Luxemburgo

por Ron Jacobs [*]
A "Doutrina de choque", de Naomi Klein, publicada em 2007, trata de um modo suave a dependência da economia capitalista quanto a eventos cataclísmicos para o seu progresso. Estes eventos deslocam milhões e provocam sofrimentos pessoais a um número ainda maior, enquanto asseguram a sobrevivência do capital. Um século atrás houve uma outra mulher que levou esta observação mais além e dedicou a sua vida para acabar com o capitalismo. Seu nome era Rosa Luxemburgo. Era uma polonesa que dedicou a vida à revolução socialista e foi assassinada em 1919 pelo governo social-democrata da Alemanha pela sua crença sem compromissos naquela revolução. A editora Haymarket Books de Chicago divulgou recentemente uma nova edição de dois dos seus ensaios mais conhecidos sob o título The Essential Rosa Luxemburg.

O volume é editado por Helen Scott, professor de literatura da Universidade de Vermont, e inclui uma introdução sua com várias páginas. O seu resumo histórico que antecede os dois panfletos reimpressos não só proporcionam ao leitor visão do momento histórico em que as peça foram escritas como também uma breve biografia de Luxemburgo e relaciona os seus argumentos políticos às circunstâncias de hoje. O livro inclui dois ensaios de Luxemburgo: "Reforma ou revolução" e "A greve de massa". Se bem que ambos sejam historicamente interessantes, é o primeiro ensaio deste livro que tem relevância particular para o mundo de hoje. Em especial, a discussão de Luxemburgo quanto ao capitalismo e a democracia fala ao mundo em que hoje vivemos. Como residentes do país que nunca cessou de auto-proclamar-se como o mais democrático do mundo, é importante prestar atenção às observações de Luxemburgo referentes à natureza das formas democráticas e da verdadeira democracia. Quando Washington exportava a sua versão de democracia para todo o mundo no rastro da Segunda Guerra Mundial, as populações de muitos países do terceiro mundo descobriram que esta democracia não era nada mais que uma eleição destinada a pavimentar o caminho para a exploração imperial e a dominação estado-unidense. Não havia democracia para aqueles que não faziam parte das elites dominantes. Isto é democracia capitalista e isto é o que Washington leva a outros países em nome da liberdade.Além disso, Luxemburgo argumenta que quando aquelas formas democráticas contrariam os interesses da elite capitalista elas também são desfeitas. Países do Terceiro Mundo dominados por golpes militares/da CIA, como o Chile e a Grécia, sabem isto demasiado bem. Ainda assim, mesmo aqui nos EUA aquelas formas estão a ser desfeitas. Sob o disfarce da segurança interna, muitas das liberdades garantidas na democracia estado-unidense foram dissolvidas. Muitas outras desapareceram sob o disfarce de uma guerra contra as drogas. Na verdade, mesmo o processo eleitoral dos EUA foi usurpado em 2000 sob o disfarce de proteger os supostos direitos minoritários de George Bush e aqueles que por ele votaram na Florida. Tal como o liberalismo, uma vez que já não sirva aos propósitos do capitalismo, ele é descartado. A história dos EUA e da Grã-Bretanha ao longo dos últimos trinta anos certamente prova isto — uma história em que mesmo liberais são conservadores (como Blair e Clinton) e os candidatos liberais de hoje modificam suas declarações para agradar a maior parte dos comentadores e redes da extrema direita. Outro assunto tratado por Luxemburgo e bastante relevante para os dias de hoje é a utilização do crédito para expandir o poder de compra da classe trabalhadora. No seu ensaio "Reforma ou revolução", o qual é escrito como uma argumentação contra o reformista social-democrata Bernstein, Luxemburgo ridiculariza sua caracterização do crédito como uma "adaptação" do capitalismo. Na realidade, argumenta ela, o crédito não apenas uma adaptação, mas reproduz "todos os antagonismos fundamentais do capitalismo". Na verdade, escreve ela, ele acentua aqueles antagonismos. O leitor de hoje não precisa senão olhar o actual colapso económico que começou no mercado habitacional porque os bancos e suas agências avançaram crédito a pessoas que eles sabiam não serem capazes de cumprir os acordos que assinaram como prova da declaração de Luxemburgo. O auge disto tudo é a guerra imperial. Luxemburgo foi mais clara sobre o papel que esta forma de assassínio em massa desempenha para facilitar a expansão do capital do que qualquer outra pessoa. Ela sabia e escreveu abundantemente sobre como a guerra é essencial para o desenvolvimento capitalista. A guerra imperial, escreveu ela, mostra o capitalismo em "toda a sua odiosa nudez". Esta nudez sangrenta não é apenas essencial para o desenvolvimento capitalista, mas este depende dela. Como escrevi, o actual regime em Washington está a progredir na sua mobilização para a guerra ao Irão, enquanto os seus opositores liberais no Partido Democrático dão palavras de apoio a este esforço para ganhar o controlo da banha que movimenta os motores do capital — petróleo. Enquanto isso, outras guerras por energia do imperialismo estado-unidense continuam a arrastar-se, em parte porque a oposição a tais guerra está confundida e impotente. Tal como a guerra no tempo de Luxemburgo, o actual impulso rumo a uma guerra maior é primariamente acerca do lucro. É uma desgraça (para dizer o mínimo) que ainda tenhamos de aprender as lições que Luxemburgo e seus contemporâneos entenderam a uma centena de anos atrás acerca de tais guerras, especialmente porque as armas hoje utilizadas são ainda mais mortais do que aquelas da Primeira Guerra Mundial. Igualmente desgraçado é o facto de que aqueles que se opõem à guerra imperialista tenham de aprender outra vez as lições de outras partes do mundo do incrível movimento contra tais guerras.


Autor de The Way the Wind Blew: A History of the Weather Underground e Short Order Frame Up . O seu ensaio Big Bill Broonzy é apresentado na colecção do CounterPunch, Serpents in the Garden: Liaisons With Culture & Sex . Email: rjacobs3625@charter.net . O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/jacobs05102008.html Via : http://resistir.info/eua/jacobs_mai08.html

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