sábado, 31 de maio de 2008

Ritual

Tornou-se uma espécie de ritual: todos os anos, por esta altura da Primavera, a Amnistia Internacional publica o seu relatório anual sobre o estado dos Direitos Humanos no mundo para concluir que o desrespeito é generalizado.

De acordo com o relatório deste ano, 81 países usam a tortura, 54 promovem julgamentos injustos, em 77 não há liberdade de expressão; a China tem a “reeducação” dos dissidentes, a Rússia também cultiva a intolerância com a dissidência, os EUA têm o seu Dachau em Guantánamo e mais um número indeterminado de campos de concentração secretos, com a colaboração de estados da União Europeia, Portugal tem a violência policial, acrescida agora da violência doméstica e da cumplicidade com os chamados “voos da CIA”.

Mas apesar deste panorama tenebroso, os Direitos Humanos deixaram der ser um cavalo de batalha do chamado mundo ocidental e civilizado. A questão dos Direitos Humanos, consagrada numa Declaração Universal há 60 anos, foi meramente instrumental, usada apenas como mais uma arma do arsenal da guerra-fria. O chamado Ocidente puxava o gatilho dos Direitos Humanos para encurralar os países comunistas mas não mais voltou a apontar essa arma contra as turvas ditaduras “amigas” ou “de conveniência”.

E para além disso acontece que a Declaração Universal dos Direitos Humanos não é apenas desrespeitada no plano dos direitos políticos mas, acima de tudo e ainda mais generalizadamente, no campo dos direitos económicos e sociais. E ninguém parece dar conta da violação diária e cada dia mais sofisticada dos Direitos Humanos ao trabalho com “remuneração equitativa e satisfatória”, à saúde e ao bem-estar, à educação gratuita, etc. Nem mesmo a Amnistia Internacional.

jpguerra@economicasgps.com
Via: http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1129235.html

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